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Conjugar o Porto
"Rasgar" com CrUdE
Conjugar: Rasgar com CrUdE

Em palco, são corpos de intervenção ao serviço de uma qualquer revolução. Para Ana Clément, Dulce Moreira e Mariana Santos rasgar convenções será sempre um dos objetivos das suas performances. Usam a voz, as mãos e o corpo todo para “dar forma à revolta”. “Somos o que tivermos de ser”, dizem. Chamam-se CrUdE porque “gostam da sonoridade da palavra”, mas podiam chamar-se outra coisa. Foi em 2015, no sofá azul-turquesa da Mariana, com vista para o Palácio de Cristal, que este projeto nasceu. São três mulheres que usam as palavras como "armas de arremesso” e o som para "tornar tudo ainda mais insuportável”.

Pintam os lábios de vermelho para sublinhar as palavras com que enchem a boca. “Temos poetas portuguesas, como a Sophia de Mello Breyner e a Natália Correia”, mas, também, “poetas da música ligeira portuguesa, como a Ana Malhoa”. Também têm Bukowski, alguns versos de WC e modas do cancioneiro tradicional.


Durante a sua performance, interpretam um excerto do romance A Madona (1968), de Natália Correia, em que são utilizados um martelo e um berbequim. “São ferramentas ligadas a uma ideia masculina. O texto não é agradável; a performance também não tem de ser. O barulho existe em contraposição às palavras de Natália e representa o lado masculino da opressão”, sustentam.


A liberdade é um princípio e um fim do seu repertório, sem sofismas. Para quem gosta de catalogações, são “folk-punk apocalíptico poético-visceral catártico”. “Queremos gostar daquilo que fazemos, com esta liberdade de fazermos as nossas escolhas, de seguirmos os caminhos que achamos que fazem sentido, sem pensar muito em como as pessoas vão ler isso. Depois, as pessoas lá terão a sua leitura, mas não é isso que nos preocupa”, garantem. É essa liberdade que, por vezes, “resulta em coisas completamente estranhas”.


Dizem que são “rafeiras, mas verdadeiras”: “O rafeiro não quer dizer que seja rasca, o rafeiro é uma mistura.”

Conjugar: Rasgar com CrUdE

© Rui Meireles

Conjugar: Rasgar com CrUdE

CrUdE em palco © Rui Meireles

CrUdE são a Ana, a Dulce e a Mariana e as suas influências; há duas músicas e multi-instrumentistas e uma performer que passou por jornalismo e que faz teatro “para ler o que nunca escreveu”. Em palco, costumam fazer-se acompanhar pela D. Antónia (em cálices). Gostam de invadir todo o tipo de palcos. Entre as mais de duas dezenas de aparições e provocações, já participaram em sessões das Quintas de Leitura e, em 2022, integraram a exposição “Mulheres que Fazem Barulho – Cenas do Rock Português I”, da Casa Comum da Universidade do Porto, que percorria a história do rock português e as mulheres que nela se inscreveram desde o pós-revolução. Foram consideradas “promessas da música e do que está por vir”.


“O que é bonito aqui é não fecharmos isto numa coisa qualquer”, afirmam. CrUdE quer intervir, rasgar, cantar e gritar bem alto, mas também sussurrar-nos ao ouvido, conforme lhes apetecer. “A emoção da liberdade pode ser silenciosa e pode ser estridente”, asseguram.

por Gina Macedo

A convite da Agenda Porto, CrUdE fez uma performance especial para esta edição de abril. Para ver já aqui:

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