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Monch Monch apresenta “Martemorte” no RCA
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O segundo álbum do músico brasileiro é editado pela Saliva Diva
Monch Monch apresenta “Martemorte” no RCA

Monch Monch é simultaneamente o nome de palco de Lucas, músico paulista, e do seu projeto musical de punk experimental que se renova de atuação para atuação — “uma espécie de mistura entre Tom Zé e Viagra Boys”, segundo o próprio. “Martemorte” é o seu segundo álbum, e será apresentado já no dia 22 de junho no Radioclube Agramonte. A Agenda Porto conversou com Monch Monch sobre o que o trouxe até esta data. 

 Agenda Porto: De onde vem o nome Monch Monch, e a frequente “mordidinha” que usas em todas as comunicações com o teu público? 

Monch Monch: Eu acho que o lugar de onde tirei isso foi de uma mistura do rock com cultura brasileira. Vem muito do Manifesto Antropofágico [movimento iniciado pelo poeta brasileiro Oswald de Andrade] que tem toda essa imagética de deglutição do seu inimigo ou de amigos caídos, que no fundo é a ideia de pegar em todas essas influências tanto brasileiras quanto internacionais e transformar noutra coisa. O nome “Monch” em si, veio de eu ser muito fã de quadrinhos mangás e essa seria a onomatopeia para uma mordidela, não é? 

 

AP: Como é que começou a tua relação com a música? 

MM: A minha família toda é de músicos — não vou dizer que me pressionaram a seguir esse caminho, mas meio que essa pressão estava lá (risos). Acho que fui muito naturalmente  instigado a fazer música. Mas toda a minha família é intérprete de música erudita — violino, canto lírico —  enquanto eu fui para esse outro lugar, que é o punk. Às vezes acho que tem umas coisas que ficaram — gosto muito de fazer uns tempos complexos na composição, e eu acho que eventualmente vem de escutar a minha avó tocando aquelas peças absurdas de Mozart. Eu acredito que muitas vezes tento passar isso para o punk também. 

Monch Monch apresenta “Martemorte” no RCA

© Rui Meireles

AP: E como é que começa a tua relação com o Porto? Editaste os teus álbuns pela Saliva Diva, e dás muitos concertos aqui no Norte. 

MM: Eu tentei por muito tempo chegar aqui. Fiquei uns três meses a tentar encontrar a cena underground da cidade, e não encontrava! No mesmo dia em que desisti, estava no Bandcamp (plataforma de streaming) a ouvir uma banda de que gosto muito do Rio de Janeiro, e que tinha um single com as Pega Monstro. Achei o som legal, fui pesquisá-las e vi que eram de Portugal. A partir daí fui falando com a Cucamonga e a Favela Discos, e todos me foram dizendo que o lugar ideal para mim seria mesmo na Saliva Diva. Eu achei: ‘mordidelas e saliva, tem tudo para dar certo já’. E deu muito. Disse-lhes que ia para o Porto — eles disseram para eu vir, mas aposto que acharam que eu nunca ia aparecer. 

 

AP: Disseste que já estavas há algum tempo a tentar vir para aqui. Porquê o Porto? 

MM: Eu sempre ouvi dizer que no Norte o pessoal era um pouco mais caloroso. Acho que um pouco por isso, e um pouco porque a Saliva Diva é mais forte aqui também, né? Quis vir sobretudo porque o Brasil tem as suas limitações, a cultura anda muito desvalorizada.  

AP: Achas que encontraste um clima de underground mais forte aqui do que em São Paulo? É surpreendente, porque São Paulo é uma megalópole. 

MM: Acho que pelo Porto estar num país europeu, isso muda muito. Mas também, por exemplo, em comparação com Londres ou outras dessas capitais, o Porto é uma cidade muito mais acessível e sustentável. Acho que Portugal, na minha experiência aqui, se tem mostrado dos lugares mais acessíveis para tocar. Mesmo nos shows mais pequenos que eu fiz aqui e que não tiveram muita afluência — mesmo nesses dava para pagar as viagens e as refeições de quem tocava. 

Monch Monch apresenta “Martemorte” no RCA

© Rui Meireles

 AP: Por falar nisso, nos concertos tens sempre uma banda variável, com elementos “emprestados”. Como funciona a constituição da tua banda? 

MM: Eu vejo isso mais como temporadas. Eu quero sempre novas pessoas tocando pra trazer novas ideias e novas abordagens. Eu tomo a frente do projeto, mas acho que Monch Monch é mais sobre a colaboração. Agora mesmo nessa turnê tem dois shows que vai ser uma formação quase toda diferente e é isso a ideia, sempre mudando alguma peça. 

AP: Por falar em coisas novas, tu vais ter já no dia 22 a apresentação do novo álbum. O que é que nos podes dizer sobre Martemorte

MM: Eu acho que no primeiro álbum, Guardilha Espanca Tato foi onde eu me encontrei. Mas agora no Martemorte eu entro mais a fundo num conceito. Do início ao fim, tem uma história que está sendo contada, tem todo um universo ali que é bem claro — de um futuro não tão distante em que os bilionários, como se a Terra já não fosse o bastante, colonizaram também Marte. E estão destruindo tudo, como eles sempre fazem. E  vez de falar de dinheiro, eu coloquei o bem material como o pão de queijo,  esse elemento bem brasileiro. Neste álbum tem uma canção que acho que é o centro gravitacional, que é a “Jeff Bezos paga um pão de queijo”. 

 

AP: Nestes concertos tens até uma personagem que tu encarnas. 

MM: É, é uma criatura embalsamada em mim. Eu acho que normalmente, no dia-a-dia, eu sou uma pessoa bastante tranquila. As pessoas que me conhecem falam ‘quem era aquela pessoa no palco?’. E num concerto acho que todos estes delírios entre mundo e fantasia, ganham força. É libertador — se eu não tivesse isso teria que encontrar alguma outra maneira de “soltar a fera”. Definitivamente, nos meus  concertos é onde o demônio sai. 

Monch Monch apresenta “Martemorte” no RCA

© Rui Meireles

AP: Tu moras aqui no Porto habitualmente ou divides o teu tempo entre aqui e São Paulo? 

MM: Eu morei aqui um ano e meio, mas voltei para o Brasil em fevereiro porque — e isso aqui é meio absurdo — mas é mais barato para mim voar cada vez que cá venho do que alugar uma casa. 

AP: Se não fosse essa barreira, tu morarias aqui? 

MM: Provavelmente eu continuaria aqui. Acho que em algum momento eu devo voltar pra cá. Tocar no Brasil é mais difícil. Apesar disso, eu acho que a cena underground aqui tem muito a ver com a cena lá do Brasil. Já consegui fazer coisas como trazer ao Porto a Sofia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, já consegui levar os Baleia! Baleia! Baleia! ao Brasil — queria muito continuar fazendo essas ligações, acho que é uma conexão muito forte, sim. Apelo a que os portugeuses façam a pesquisa de artistas brasileiros, e que brasileiros façam a pesquisa do rock português, que é muito f*da. 

 

AP: Achas que esta semelhança se estende também ao público? 

MM: Acho muito parecidos. É muito engraçado quando algum amigo meu, algum artista conhecido meu vem para cá e aí eu vejo essas pessoas juntas, é uma coisa linda. A conexão é muito forte. Há o passado sombrio dessa história partilhada, mas também tem esse lado luminoso. 

Monch Monch apresenta “Martemorte” no RCA

© Rui Meireles

AP: Para fechar, o que é que achas que falta fazer para evitarmos o destino que estás a profetizar com Martemorte

MM: Olha, com certeza as pessoas têm que parar de entender o centro-esquerda como esquerda radical, e abraçar mais a esquerda radical. Porque é disso que a gente precisa, de ideias radicais. O mundo está a acabar, e isso não se conserta com ideias moderadas. Continuem com moderação e o mundo acaba. 

Monch Monch apresenta “Martemorte” no RCA

© Rui Meireles

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