PT

EN

News
Mimi Froes — Ao Vivo e a Riscos
Interviews
Cantora e compositora apresenta o mais recente álbum na Casa da Música
Mimi Froes — Ao Vivo e a Riscos

Mimi Froes é uma compositora e cantora de 26 anos que deixou um curso de Direito para se dedicar à lírica e musicalidade. Lançou este ano o álbum "Ao vivo no Estúdio Vale de Lobos", uma espécie de balanço do percurso até agora, gravado com um público que preencheu o recato do estúdio. Agora, esta atuação intimista vai percorrer grandes salas do país, num formato que é intrínseco ao álbum: ao vivo.


A propósito da sua atuação na Casa da Música a 7 de junho, com os convidados Malva e Tiago Nacarato, falamos com a cantautora que matiza canções a fogo lento com o lado mais delicado do jazz.

Agenda Porto: Há sempre o receio de dar o salto, abandonar o barco de uma licenciatura tradicional e enveredar pela música. Quando sentiste que tudo tinha corrido bem, que estavas no caminho certo?


Mimi Froes: Acho que foram pessoas diferentes em momentos diferentes que me fizeram sentir isso, mas sem dúvida que uma foi o João Só. Depois de participar no Factor X [concurso de talentos televisivo] percebi que não era aquilo que eu queria, e o João é que me trouxe mais um bocadinho para o mundo da música. E, depois, a Luísa Sobral, que me apanhou no ano em que eu tinha suspendido a matrícula no curso, e definitivamente me tirou desse mundo. Eu lembro-me de lhe mostrar a canção “Não Faz Mal Não Estar Bem”, e ela disse-me que gostava muito de produzir o meu primeiro disco. Tenho essa frase marcada na memória — onde é que ela estava, como é que eu estava sentada, como é que estávamos vestidas — porque esse foi o ponto de viragem.

 

AP: E como é que tu sentes que tens construído desde então a tua sonoridade, o teu estilo particular? Sabias que querias fazer este tipo de música desde o início?


MF: Não, de todo. É uma coisa muito interessante porque numa fase inicial acabou por ser sem dúvida um som mais pop. Mas com o tempo as coisas foram afunilando e adensaram-se um bocadinho com o curso de jazz que eu estava a tirar. Ao trazer o contrabaixo, trouxe a bateria e o som seco da guitarra, portanto acabou por ser bastante orgânica a passagem para o jazz. Sinto que agora estou numa fase secundária em que nos perguntamos “o que é que de novo podemos acrescentar?”. Mas, para mim, ainda não tenho aquela sensação de que, ao alguém ouvir uma canção, saber logo que sou eu. Esse é o próximo passo.

Mimi Froes — Ao Vivo e a Riscos

© Guilherme Costa Oliveira

AP: Sentes então que ainda não tens uma assinatura completamente formada?


MF: Tenho essa assinatura na escrita, acho que as pessoas que me acompanham percebem logo que fui eu a escrever algo. Mas na sonoridade — no tratamento do som, no timbre utilizado, em como a voz soa — aí acho que a história é diferente.

Mimi Froes — Ao Vivo e a Riscos

© Sofia Hügens

AP: Mas é algo em que trabalhas também, para além da composição e da interpretação.


MF: Sim, o último disco produzi em parceria com o Tomás Marques — mas também incluimos a banda toda, porque eu acho que ninguém vai saber mais dos instrumentos do que quem os toca, portanto preciso muito deles para a produção desses discos. E desta vez foi uma vez muito especial, porque estávamos todos muito entregues ao projeto e de facto ficou com uma produção muito especial, e da qual eu estou muito orgulhosa. Para mim já foi uma patada mais perto daquilo que eu estou à procura, e estou agora a entrar numa fase mais dessa descoberta.

 

AP: Ao falares deste último disco, uma gravação ao vivo, insistes na ideia de ser uma espécie de fecho de ciclo, já se nota que estás a falar nessa próxima fase.


MF: É verdade, e eu estava agora a pensar nisso se já estava a falar demais (risos). Mas é a verdade, porque a este disco trouxemos aquilo que nós fazíamos ao vivo nos primeiros concertos — e o que fazíamos era muita revisitação de obra antiga. Eu acho que às vezes é muito difícil nós termos o pulmão criativo de estar sempre, sempre, sempre a criar, e esse disco ao vivo deu-me a calma de “Olhem, lembrem-se do que eu fiz”. E isso foi relevante porque houve pessoas que não conheciam algo na discografia. Eu acho que isso se nota muito na música brasileira, têm discos de revisitação de obras antigas e em Portugal às vezes esquecemo-nos disso. Então eu pensei que, não tendo idade para fazer um disco de revisitação (porque não tenho), tenho idade para ter a ideia maluca e fazer um disco ao vivo e assim ter uma razão para revisitar temas antigos. E isso me dá-me pulmão até ao próximo projeto, sabes?

AP: E já dá antecipar o que está aí a fervilhar para esse próximo ciclo, para a próxima etapa?


MF: É assim, tudo o que eu vou dizer agora amanhã pode não ser verdade — mas é mesmo assim, quando se trabalha num ato criativo, não é? Mas na minha cabeça, este projeto vai demorar a ser gravado. Já começámos a sonhá-lo, já começámos a escolher os temas, a equipa que o vai liderar já começou a ser solidificada — mas o que é certo é que eu desta vez tenho muita, muita, muita certeza de que, ao contrário dos meus outros discos, todos gravados em 5 dias, este vai levar o tempo que ele precisar de mim. E como nós estamos num país que não é assim tão rico, e o tempo sendo dinheiro, é disso que eu preciso — preciso desse tempo para que toda a gente esteja confortável neste projeto, com foco, e que ele só saia quando ele chegar a bom porto.

AP: Tocaste aí um bocadinho no lado operacional, de indústria. As pessoas acabam por ter interesse também nisso, porque têm os seus artistas favoritos e não sabem muito bem como os apoiar, uma vez que o streaming não enriquece ninguém, certo?


MF: É dúbio. Uma vez eu assisti ao Miguel Araújo falar sobre esse tema, e sinto que ele tem alguma razão quando diz que “depende de quantas pessoas estão a absorver”. Claro que é sempre bom ter pessoas a ouvir, mas não há nada como o passa-a-palavra e como virem a concertos. Isso é certo e sabido. Querer ouvir música ao vivo é tão natural como acordarmos e termos fome. São as coisas mais naturais, não é? A primeira coisa natural da música é nós irmos ouvi-la e senti-la, e sentir as vibrações no chão e percebermos como é que aquilo nos impacta.


AP: Para ti, claramente, a experiência ao vivo é fundamental. Costumas falar disso como uma espécie de criação conjunta.


MF: Sem dúvida. Faz mesmo diferença, a música pode ser mesmo transformadora e provocar sensações inacreditáveis. Recentemente, a Carolina Deslandes estava a comparar cada canção do disco novo dela a um medicamento. Claro que nós, cantautores, somos todos terríveis — muito românticos, entramos todos nestas tragédias — mas a música pode mesmo ser medicamento, nem que seja naquele segundo em que nos abrimos deixámos sair um sentimento. Já vi muita gente chorar em concertos e isso é tão verdadeiro, não há nada mais humano do que isso.

Mimi Froes — Ao Vivo e a Riscos

AP: Quais são as tuas expectativas sobre como este álbum vai funcionar ao vivo?


MF: O “ao vivo” do álbum gravado ao vivo! É interessante que me perguntes isso porque quando estava a falar com o técnico de luz, estávamos a falar um bocadinho sobre como reproduzir a intimidade do dia da gravação. Vamos olhar para tudo, até mesmo para as roupas que os músicos estavam a usar, para aquelas cores de estúdio, muito quentes. Vai ser uma procura de como é que nós podemos amplificar a intimidade, não a perdermos.

Share

LINK

Relacionados

Mimi Froes — Ao Vivo e a Riscos
agenda-porto.pt desenvolvido por Bondhabits. Agência de marketing digital e desenvolvimento de websites e desenvolvimento de apps mobile