EN
"Maurizio Cattelan (Pádua, 1960) é um artista internacionalmente reconhecido desde o início da década de 1990. Com obras que questionam e subvertem os limites dos sistemas de valores contemporâneos, a retrospetiva do artista, Sussurro, será apresentada na Casa de Serralves, uma construção Art Déco dos anos 1930. A exposição reúne uma seleção de obras fortemente enraizadas na História, que refletem a abordagem de Cattelan à arte. Além das peças aí expostas, serão instaladas esculturas do artista em vários pontos do Parque. Estes cenários oferecem um enquadramento singular, tanto da obra de Cattelan como do próprio Parque e da Casa de Serralves.
A maioria das obras selecionadas para Sussurro demonstra o interesse de Cattelan pela História: as mudanças, os traumas e os ícones históricos. Os períodos de transição, ou entremeios, parecem fascinar o artista. O momento suspenso e indefinido entre a infância e a idade adulta, entre a vida e a morte, entre épocas históricas, entre o riso e o choro, é a fonte da sua iconografia. Cattelan converte tais momentos em ícones.
O artista concebeu a sua obra como uma série de saynètes, habitadas por um elenco de personagens que vão de figuras históricas e autorretratos a amigos e conhecidos, crianças, objetos, locais e imagens familiares, e ainda um bestiário. Um détournement... uma família de marginalizados, com referências diretas a alguns dos seus antecessores: Joseph Beuys, Lucio Fontana, Giovanni Anselmo, Piero Manzoni, Mario Merz, Jannis Kounellis, Carlo Collodi, Walt Disney, Günter Grass e Volker Schlöndorff, Stephen King e Stanley Kubrick... e, nas entrelinhas, Andy Warhol, pela sua relação furtiva com a imagem pública, o seu estatuto enquanto criador de imagens, o seu espírito empreendedor e editorial, bem como a sua obsessão com a morte.
As saynètes revelam um entendimento quase teatral ou cinematográfico do espaço. Os locais, como a Casa de Serralves, são decisivos; o enquadramento, os ângulos e as linhas de visão nunca são inocentes — tal como Cattelan —, e o contexto geral é determinante para a perceção da obra. A cenografia e a direção artística são tão importantes como as referências históricas ou culturais. A sua conceção do espaço e a forma como nós, visitantes, deparamos com as obras estão intimamente relacionadas com o legado da arte conceptual e minimalista, bem como com uma abordagem fenomenológica do espaço e da consciência espacial. O modo estratégico como os objetos são posicionados e orientados, seja numa sala, seja numa praça pública, determina a nossa apreensão e a leitura das obras.
Sussurro é para Serralves o que as Tentações de Santo Antão de Bosch são para o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. As Tentações de Lisboa têm agora um paralelo: as Tentações do Porto. A pintura de Bosch é um espetáculo exacerbado da loucura humana, uma visão de um mundo que se aproxima vertiginosamente do fim, tendo como pano de fundo a alegoria bíblica do bem e do mal — uma visão psicótica da decadência, em que pessoas e animais dançam rumo à condenação num cenário em que tudo ardeu. Em Bosch, o grotesco e o humor, a mímica e a blasfémia, são extraídos do mundo e expõem, de forma icónica, a cumplicidade entre a humanidade e a corrupção. As imagens são a salvação.
Maurizio Cattelan surge numa cultura em que a questão do lugar, do papel e da veracidade das imagens está no centro de um mal-estar endémico, e responde com imagens que são, em si, intrusões carregadas de mal-estar. Esse mal-estar será, porventura, o nosso riso.
Os aforismos visuais de Cattelan são exercícios de desvio e reencaminhamento, pirateando uma vasta base de dados de imagens profundamente enraizadas na história, na cultura, nos sistemas de crenças e nos nossos tabus. Sussurro fala alto para quem queira ouvir, e também para quem não queira.
Produzida pela Fundação de Serralves – Museu de Arte Contemporânea Porto, a exposição tem curadoria de Philippe Vergne, Diretor do Museu e coordenação de Giovana Gabriel." — Serralves
More info
"Maurizio Cattelan (Pádua, 1960) é um artista internacionalmente reconhecido desde o início da década de 1990. Com obras que questionam e subvertem os limites dos sistemas de valores contemporâneos, a retrospetiva do artista, Sussurro, será apresentada na Casa de Serralves, uma construção Art Déco dos anos 1930. A exposição reúne uma seleção de obras fortemente enraizadas na História, que refletem a abordagem de Cattelan à arte. Além das peças aí expostas, serão instaladas esculturas do artista em vários pontos do Parque. Estes cenários oferecem um enquadramento singular, tanto da obra de Cattelan como do próprio Parque e da Casa de Serralves.
A maioria das obras selecionadas para Sussurro demonstra o interesse de Cattelan pela História: as mudanças, os traumas e os ícones históricos. Os períodos de transição, ou entremeios, parecem fascinar o artista. O momento suspenso e indefinido entre a infância e a idade adulta, entre a vida e a morte, entre épocas históricas, entre o riso e o choro, é a fonte da sua iconografia. Cattelan converte tais momentos em ícones.
O artista concebeu a sua obra como uma série de saynètes, habitadas por um elenco de personagens que vão de figuras históricas e autorretratos a amigos e conhecidos, crianças, objetos, locais e imagens familiares, e ainda um bestiário. Um détournement... uma família de marginalizados, com referências diretas a alguns dos seus antecessores: Joseph Beuys, Lucio Fontana, Giovanni Anselmo, Piero Manzoni, Mario Merz, Jannis Kounellis, Carlo Collodi, Walt Disney, Günter Grass e Volker Schlöndorff, Stephen King e Stanley Kubrick... e, nas entrelinhas, Andy Warhol, pela sua relação furtiva com a imagem pública, o seu estatuto enquanto criador de imagens, o seu espírito empreendedor e editorial, bem como a sua obsessão com a morte.
As saynètes revelam um entendimento quase teatral ou cinematográfico do espaço. Os locais, como a Casa de Serralves, são decisivos; o enquadramento, os ângulos e as linhas de visão nunca são inocentes — tal como Cattelan —, e o contexto geral é determinante para a perceção da obra. A cenografia e a direção artística são tão importantes como as referências históricas ou culturais. A sua conceção do espaço e a forma como nós, visitantes, deparamos com as obras estão intimamente relacionadas com o legado da arte conceptual e minimalista, bem como com uma abordagem fenomenológica do espaço e da consciência espacial. O modo estratégico como os objetos são posicionados e orientados, seja numa sala, seja numa praça pública, determina a nossa apreensão e a leitura das obras.
Sussurro é para Serralves o que as Tentações de Santo Antão de Bosch são para o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. As Tentações de Lisboa têm agora um paralelo: as Tentações do Porto. A pintura de Bosch é um espetáculo exacerbado da loucura humana, uma visão de um mundo que se aproxima vertiginosamente do fim, tendo como pano de fundo a alegoria bíblica do bem e do mal — uma visão psicótica da decadência, em que pessoas e animais dançam rumo à condenação num cenário em que tudo ardeu. Em Bosch, o grotesco e o humor, a mímica e a blasfémia, são extraídos do mundo e expõem, de forma icónica, a cumplicidade entre a humanidade e a corrupção. As imagens são a salvação.
Maurizio Cattelan surge numa cultura em que a questão do lugar, do papel e da veracidade das imagens está no centro de um mal-estar endémico, e responde com imagens que são, em si, intrusões carregadas de mal-estar. Esse mal-estar será, porventura, o nosso riso.
Os aforismos visuais de Cattelan são exercícios de desvio e reencaminhamento, pirateando uma vasta base de dados de imagens profundamente enraizadas na história, na cultura, nos sistemas de crenças e nos nossos tabus. Sussurro fala alto para quem queira ouvir, e também para quem não queira.
Produzida pela Fundação de Serralves – Museu de Arte Contemporânea Porto, a exposição tem curadoria de Philippe Vergne, Diretor do Museu e coordenação de Giovana Gabriel." — Serralves
Share
FB
X
WA
LINK
Relacionados
From section
Families
Workshop
Free
Talk