Numa das notas que Chuck Roth escreveu sobre as canções de watergh0st, alerta que as músicas mudam de cada vez que as toca, o que significa que não são estáticas, mas sim representações do momento, seres vivos que não podem ser aprisionados numa ideia. Parece ingénuo — afinal, não deveria toda a música ser assim, sempre diferente, a cada instante, a cada ação? — mas isso relaciona-se com as origens de Chuck Roth, formado em guitarra clássica, onde a liberdade pode entrar na interpretação, mas não na estrutura. Assim, quando nos visita, estas canções — e outras — existirão enquanto esta ideia for vivida. Editado por Palilalia, de Bill Orcutt, watergh0st songs e Chuck Roth são um dos eventos de 2025. Não é o álbum de estreia, uma vez que já houve Document 1 pela Relative Pitch Records antes, mas há um desejo cristalino em watergh0st songs que se eleva acima de tudo o que ouvimos antes e depois. Uma bela demonstração de canções belíssimas, em que a fluidez, a cadência e a pontuação são exibidas com um sentido de naturalidade. Esta ideia de naturalidade, de música natural, eleva a própria construção das canções. Quando se ouve a ideia de música gutural, há uma associação com o ruído, que é livre e furioso e também surge lado a lado com o ruído. Chuck Roth oferece algo diferente, mantendo as origens destas associações. As canções que ouvimos dele até agora são puras e refletem alguém sem máscaras. Voz e guitarra fluem em paralelo, as letras escondem pequenas narrativas que soam a contos. Música que não deixa margem para exageros, porque o exagero está na sua própria existência. É perfeita, e essa perfeição é espantosa. Como é que isso poderia ser melhor? Por experiência própria, ao vivo, tudo só tende a melhorar. Espere o melhor do mundo em palco.