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Os Snõõper são uma banda de Nashville que é frequentemente definida como egg punk. Se não conhecem o estilo, não se sintam mal — é assumidamente um microgénero que viu a sua popularidade explodir na década passada, sendo definido por uma visão mais divertida e satírica do punk. Esta banda é também reconhecida por um gesto singular: os seus concertos ao vivo são habitados por bonecos em papel machê que "dançam" no meio do público. Falámos com os fundadores, Connor Cummins e Blair Tramel, antes do concerto que vão dar na Socorro, no dia 3 de novembro.
Nashville, capital de música country no estado americano do Tennessee, é grande o suficiente para gerar muitos mais espectros musicais. Connor Cummins participou em vários projetos que orbitam o punk — até a pandemia desacelerar essas colaborações. Foi no confinamento que Connor e Blair Tramel começam as cogitações que dariam lugar aos Snõõper: entre produções lo-fi caseiras, com baterias digitais e sons peludos de guitarra, a estética da banda cristaliza-se com os vídeos animados produzidos por Blair.
Após a pandemia, e animados pela adesão que Snõõper teve numa audiência em telepresença, o duo lança-se nos concertos ao vivo. Faltava apenas o ingrediente final: enormes bonecos em papel machê, uma visão surreal na paisagem áspera e ratada da estética punk. Blair, que trabalha como educadora de crianças, sempre fez em casa algumas peças em papel amassado, e diz-nos que "nunca teve o desígnio de levar o mundo dos bonecos para Snõõper". "Achei que não ia bater certo com a vibe, mas as pessoas quando vinham aqui a casa gostavam sempre de brincar com o que eu tinha, e eventualmente experimentámos levar um boneco a um concerto".

Mosh-quito, o primeiro boneco a participar num concerto dos Snõõper © Emily Moses
O sucesso de um grande mosquito que saltava no meio do mosh-pit (cortesia de um voluntário da audiência para o usar sobre os ombros) não só bateu certo com a vibe, como se tornou algo indissociável da banda, segundo Blair: "agora, quando estamos em tour, sentimos que estamos a desiludir as pessoas se não trouxermos os bonecos".
Sobre o porquê deste elemento de diversão resultar tão bem com públicos punk, Connor encontra uma possível razão na simples diferenciação: "O mundo punk veste pouco artwork: as capas dos álbuns ou são desenhos muito crus, ou baseiam-se em fotografias de concertos". Blair acrescenta que "quando um vocalista punk está mesmo a atirar-se a uma canção, é quase um momento de arte performativa. E acho que os bonecos funcionam como uma ponte para uma ligação mais profunda entre o que está a acontecer no palco e o que está a acontecer no público".

Blair Tramel com as suas criações em papel e gesso © Emily Moses

© Emily Moses
Os Snõõper estão nos últimos dias de uma longa digressão europeia, a abrir para a banda sueca The Hives. No Porto, vão apresentar-se a solo na Socorro, integrando o ciclo "Não se passa nada às Segundas", uma atuação promovida em parceria entre a Saliva Diva e a Machamba.
Connor confessa que levar as suas mascotes a todos os concertos é "um pesadelo logístico", mas que não poderia ser de outra forma, porque "sentem que estão a roubar uma experiência às pessoas se não tiverem com eles um elemento com o qual o público se relaciona tanto".
O transporte das peças em papel machê implica conduzir de carrinha entre todas as cidades. Quando a Agenda Porto falou com a banda, tinha acabado de chegar a Milão vinda de Zurique — e após o concerto dessa noite, seguiria para Barcelona. Quanto aos bonecos em si, são construídos no início de cada tour, deixando-os, depois, armazenados em casa de amigos algures naquele continente. Assim, há um armazenamento de bonecos dos Snõõper em três continentes: América do Norte, Austrália e Europa.

© Emily Moses
Sobre as viagens, Blair sublinha que "se sente muito agradecida de poder viajar tão livremente", sobretudo numa altura em que, nos Estados Unidos, "as pessoas têm medo de sair sem saber se conseguirão voltar" [devido às políticas migratórias do executivo de Donald Trump]. Mas, além disso, Blair fala em como é triste ver bandas que têm receio de ir tocar aos Estados Unidos, pelo clima que ali se vive. Contudo, acrescenta: "queria que as pessoas soubessem que as comunidades e as pessoas da cena DIY e punk estão preparadas e prontas para vos ajudar, se vierem".

© Emily Moses
Nesta tour europeia, os Snõõper estão a apresentar o seu segundo álbum, apropriadamente chamado "Worldwide". Sobre a evolução de um trabalho para o outro, Connor refere que "houve muito mais trabalho de produção neste, e mais tempo no estúdio". Ao contrário do trabalho de lançamento, mais lo-fi, e com canções mais curtas, aqui procurou-se "ter mais tempo nas canções para também deixar a voz da Blair respirar".
Connor sente que, por vezes, "as bandas punk têm medo de experimentar coisas novas". "Os meus álbuns favoritos são de artistas que estavam a fazer uma quebra com o seu trabalho anterior. Para nós, é sempre excitante tentar coisas novas a cada álbum. Também pode ser assustador, mas seria uma desilusão se fizéssemos sempre o mesmo".
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