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Ateliês no Porto que promovem oficinas de artes
Mexer, moldar, amassar, desenhar, pintar, bordar, criar.
Reportagem Dez Ateliês que promovem oficinas

Dezembro 2025

São cada vez mais as pessoas que procuram oficinas de artes para testar habilidades manuais, estimular a criatividade, produzir peças personalizadas, arejar a cabeça ou, até, combater a solidão. No Porto, multiplicam-se os ateliês que dão palco a este desejo de experimentar. A Agenda Porto visitou quatro desses espaços onde se pode experimentar e aprender cerâmica, desenho, ilustração, gravura ou tufting. Além das oficinas pensadas para adultos, há, também, oficinas para famílias e para bebés.

ACASO Atelier Criativo

Adalgisa de Castro Lopes e Elizabete Sousa são arquitetas e amigas de longa data. Frequentaram faculdades diferentes, mas já trabalharam juntas em vários ateliês, e têm vindo a promover oficinas artísticas para diferentes públicos.

Era um sonho comum terem um ateliê conjunto que fosse “como uma loja de rua”. Encontraram esse espaço “por acaso” no número 622 da rua mais comprida do Porto – a Rua de Costa Cabral – e, de um dia para o outro, tiveram de tomar uma decisão. Inauguraram o espaço em setembro deste ano.

“A palavra ‘acaso’ tem muito que ver com as oficinas que nós desenvolvemos: interessa-nos a componente de exploração e não do ‘certinho’, do ‘direitinho”, afirma Adalgisa. O mote é “abraçar o acaso, abraçar o erro”.


No dia em que fomos conhecer o ACASO, Adalgisa e Elizabete estavam a preparar “uma mesa gigante” para uma oficina com 22 participantes. Trata-se da Jam Drawing Session que acontece na primeira sexta-feira de cada mês, e que é um convite à comunidade para se juntar e desenhar ao som de música. “É um evento por donativo [simbólico]; os participantes dão o que quiserem, para que o valor não seja impeditivo das pessoas participarem”, diz Elizabete.
“Nós gostávamos que fosse com música ao vivo, mas ainda vamos caminhar para lá”, acrescenta Adalgisa. Estas jams de desenho têm também como objetivo proporcionar um momento de convívio. “As oficinas são, muitas vezes, uma forma de combater a solidão, de criar laços com novas pessoas, e de conhecer pessoas que têm os mesmos interesses”.

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Adalgisa de Castro Lopes e Elizabete Sousa © Nuno Miguel Coelho

Como são novas no bairro, dizem que há “uma relação engraçada” com os vizinhos. “Quase todos os dias nos batem à porta a perguntar o que é que estamos aqui a fazer; sentimos uma curiosidade por parte das pessoas que passam, gostam da montra, e dizem-nos que já fazia falta algo assim nesta área”.

As fundadoras do ACASO afirmam que nas suas oficinas “o processo é que é importante” e acrescentam que “a componente sensorial é muito trabalhada”, nomeadamente a relação com a matéria, mas também o corpo em movimento. Neste sentido, Adalgisa refere que fez uma formação com os Segni Mossi, um grupo italiano que explora a relação do desenho com a dança e a expressão do corpo, para aplicar os conhecimentos que adquiriu nas oficinas que promovem. “Costumo dizer que não ensino ninguém a desenhar; aqui, o mote é a exploração”, afirma. “É um laboratório vivo onde se pode ter acesso a materiais e experimentá-los, e onde as pessoas podem sentir a liberdade de [o processo] não ter de resultar numa obra de arte. É sobre experimentar”, sublinha Elizabete.

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© Nuno Miguel Coelho

Dentre as várias oficinas mensais, Adalgisa aponta Para Lá do Desenho, que acontece uma vez por mês, e é realizada em colaboração com a psicóloga Margarida Sanchez, e onde o desenho (com diferentes técnicas e materiais) é utilizado como ferramenta de exploração sensorial e expressão pessoal.

Trata-se de uma proposta “para quem deseja explorar o desenho como prática de autoconhecimento, num ambiente acolhedor e de partilha”.


O ACASO. Atelier acolhe, ainda, outros projetos, como o Wôdu

Studio, que promove workshops de bordado e costura para pessoas de todas as idades e diferentes níveis de conhecimento. “Nós queremos dinamizar este espaço e criar sinergias com outros projetos abertos à comunidade”.


Relativamente à agenda de dezembro, Adalgisa e Elizabete destacam, no dia 6, uma oficina para famílias: Clube do Conto e da Linha, “onde crianças e adultos exploram juntos o poder das histórias, da imaginação e da criação artística”. Cada sessão começa com a partilha de um conto, por Lucie Oliveira, um momento de escuta e curiosidade, e depois, a partir da história, abrimos espaço para a expressão através da arte”. Há também duas oficinas dedicadas à quadra natalícia: no dia 7, uma oficina de criação de postais de Natal em gravura e, no dia 13, uma oficina de gravura, “onde se propõe oferecer o tempo, a dedicação e a expressão criativa, presentes que carregam consigo o valor do gesto e da intenção”.

Base. Atelier cowork

Natural do Porto, Filipa Viana é uma artista visual conhecida pelas suas “gordas”, corpos femininos voluptuosos (muitas vezes, envergando um fato de banho) que desenha e pinta em pratos e candeeiros em cerâmica ou que molda em grés. “Gosto de levar um lado mais humorístico para as minhas peças, de explorar um lado irónico e criar peças que façam as pessoas sorrirem”, conta à Agenda Porto. Além de querer ter um ateliê próprio onde pudesse criar e desenvolver o seu trabalho autoral, Filipa estava à procura de um espaço onde pudesse ensinar e partilhar conhecimentos – encontrou-o na Rua de Anselmo Braamcamp, onde, em fevereiro do ano passado, abriu o Base. Atelier Cowork.


“Quando saí da faculdade, houve a necessidade de partilhar ateliês com amigos, era a única forma de nos mantermos a fazer alguma coisa; mas, a dada altura, tive a necessidade de um espaço maior – para poder receber pessoas e dar aulas porque já tinha dado aulas de pintura e desenho, e percebi que tinha jeito para a relação com o público”, conta-nos.


Quando chegámos ao Base, Filipa estava a orientar uma aula livre de cerâmica em que cada participante desenvolve um projeto pessoal sob a orientação da artista. “Gabo-te a paciência!”, ouvimo-la dizer a uma das alunas que se afoitou num trabalho minucioso de criação de enfeites de Natal em cerâmica.

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Escultura de Filipa Viana © Guilherme Costa Oliveira

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Filipa Viana © Guilherme Costa Oliveira

“Muitas das pessoas que participam nas aulas e nas oficinas sempre gostaram de mexer com as mãos, têm alguma sensibilidade que queriam desenvolver, mas enveredaram por outras áreas. E sinto, também, que muita gente vem à procura de inputs para a vida. Acho que também há aqui um lado terapêutico; a frase que eu mais ouço é ‘isto faz-me muito bem à cabeça’”, conta. Além das aulas, que “tenta limitar a quatro turmas para ter tempo para desenvolver o seu trabalho”, Filipa promove, aos sábados, vários workshops temáticos em grupo ou individuais, a partir de técnicas básicas de modelação do barro, e que são cada vez mais procurados por empresas que querem proporcionar atividades de teambuilding.

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Geni e uma peça da sua autoria em tufting © Guilherme Costa Oliveira

Além de Filipa, o Base tem mais quatro artistas residentes. “Esta partilha com outros artistas pode contribuir para desbloqueios criativos. Estive sempre em ateliês partilhados, e gosto desta dinâmica e da troca de ideias”, refere. Uma das artistas é Geni Gomes, que se lançou na arte do tufting [tufagem], e também começou a promover workshops.

Geni estudou Design Gráfico na Faculdade de Belas Artes do Porto, onde conheceu Filipa. Depois de ter trabalhado alguns anos como designer, em 2008, “com a crise”, enveredou pela área da restauração, depois de ter tirado um curso de sushi, mas nunca deixou de explorar o seu lado artístico.

“Sempre gostei muito de manualidades, porque esse tipo de trabalho sempre me acalmou; sofro de ansiedade, e a situação agudizou-se com a covid.” Foi nessa altura que Geni decidiu mudar de vida, e “voltar a si”. Fez uma formação, através do IEFP, em artesanato contemporâneo e, “entretanto, o algoritmo

do Instagram mostrou-lhe o tufting”, que a “fascinou”. Quis experimentar a técnica e fez uma formação numa cooperativa artística, na Covilhã. “Senti que era isto que queria; e quando estava à procura de um espaço para trabalhar, a Filipa encontrou este. O universo juntou-nos”, ri-se.

Mas, afinal, o que é o tufting? É uma técnica artística têxtil que pode ser aplicada a tapetes e a tapeçarias de parede, por exemplo. “Pode ser aplicada ao que nós quisermos, não há regras”, afirma Geni.


“‘Enchemos’ uma tela com uma pistola de tuft que injeta e corta o fio; o maior desafio é desenhar [na tela] e escolhermos as cores que vamos utilizar”, explica, acrescentando que, “nas grandes indústrias de tapetes, o tufting é feito por robôs, mas através das redes sociais, sobretudo através do Tik Tok, tornou-se uma moda a nível mundial, e há um foco enorme nesta técnica porque é aliciante de ver e de fazer”.


Além de produzir as suas peças artísticas, Geni “arriscou” dar aulas, e “estão a correr muito bem”. Em dezembro, estão previstos dois workshops de tufting, um deles alusivo ao Natal, a 8 de dezembro, com uma duração total de seis horas (duas horas para acabamentos). Os participantes vão poder levar para casa uma peça de arte numa tela de 40 cm x 35 cm.
No Base, a 13 de dezembro, está também agendada uma oficina de cerâmica de enfeites de Natal.

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Demonstração de tufting © Guilherme Costa Oliveira

DoBarro

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Felipe e Marisa no DoBarro © Rui Meireles

Nas histórias que ouvimos sobre o surgimento de ateliês partilhados na cidade há pontos comuns: alem de questões mais praticas, como suavizar o custo da renda, há a amizade entre os seus fundadores, a paixão comungada pelas artes e o gosto por transmitir conhecimentos a mais pessoas. A história de DoBarro não é diferente. Marisa Grilo, Felipe Rocio e Samuel Sanção são três amigos que, no início de abril, abriram este ateliê e loja na Rua da Alegria onde produzem e vendem peças de cerâmica, ilustração e gravura, e promovem várias oficinas artísticas.


Marisa e Felipe conheceram-se, em 2018, no Mestrado em Escultura da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, “descobriram que tinham em comum a paixão por cerâmica” e começaram a trabalhar juntos. Antes, o estúdio era na sala de estar de Felipe. A casa tinha um quintal onde era possível ter o forno, construído por ele, onde coziam as peças de cerâmica, e que esta agora no pátio das traseiras de DoBarro. “E um forno modular, e como é desmontável, trouxemo-lo, bloco a bloco, e voltámos a montá-lo aqui.”

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DoBarro © Rui Meireles

A ideia de promoverem workshops começou na Squid Ink Works, um espaço gerido por um coletivo de oito pessoas de várias nacionalidades do qual fazem parte. Na altura, “99% dos participantes das oficinas eram turistas”, mas hoje os locais e os estrangeiros estão em igual número. “Tendo o estúdio aqui, na Rua da Alegria, há cada vez mais locais a participar – e ficamos muito felizes por isso”, diz Marisa. “E para isso também contribuiu a divulgação na Agenda Porto”, acrescenta. A maioria dos participantes “nunca teve contacto com cerâmica e quer experimentar pela primeira vez”. “No início, começam por dizer que ‘não vai sair nada de jeito’, mas no final saem daqui surpreendidos e orgulhosos com o resultado.”


Apesar de o nome do ateliê apontar para o trabalho em cerâmica, os três artistas também fazem ilustração e gravura. “Eu e a Marisa enveredamos mais pela cerâmica, mas temos muito interesse em explorar outras expressões artísticas e outras técnicas”, sublinha Felipe. Neste sentido, realça o trabalho de Samuel Sanção, o terceiro elemento de DoBarro (que no dia em que visitámos o espaço não pôde estar presente). “O background dele e diferente do nosso, ele e designer, mas também explorou o campo da ilustração; gosta muito de banda desenhada, e é muito bom a criar coisas mais oníricas, surreais”. Foi dele que partiu a ideia de criar oficinas como a Zine ou a Desenhar depois deCrescer. “O foco e mesmo libertar a mão, libertar o gesto e não ter vergonha de se expressar”, refere. E acrescenta: “quando somos crianças, não temos um freio e desenhamos mais livremente, mas acho que a partir de uma certa idade começamos a ter certos bloqueios e paramos de fazer desenhos. O Samuel pensou em vários exercícios para tentar fazer esse desbloqueio.”


Duas mãos não chegam para contar todas as oficinas que acontecem mensalmente no DoBarro, mas em dezembro somam-se mais duas alusivas ao Natal: no dia 6, há uma oficina de enfeites natalinos em Nerikomi, uma técnica ancestral japonesa, “que faz um efeito marmoreado e usa diferentes barros”, e, no dia 13, há uma oficina para a criação de porta-velas em cerâmica. Para saber mais, consulta a secção de Arte e Exposições.

Oficina Josefina

É na Avenida de Camilo, no Bonfim, que damos com a Oficina Josefina, fundada por Rita Faustino, artista plástica e arte-educadora. Natural do Ribatejo, mudou-se para o Porto para estudar na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, onde se formou em Artes Plásticas – Pintura. Depois de ter trabalhado durante oito anos em vários museus, onde dinamizava oficinas e visitas guiadas, Rita começou a sentir vontade de “voltar a mexer em matéria”. Por isso, quando encontrou este espaço “decidiu fazer aquilo que já imaginava: ter um ateliê onde pudesse trabalhar a matéria e pudesse receber pessoas para fazer oficinas de cerâmica, bordados e macramé”.


A Oficina Josefina abriu portas em maio de 2019, e a história por trás deste nome que rima começou, em 2017, quando estava grávida da filha. “Nessa altura, fazia visitas orientadas em vários espaços museológicos e de cada vez que fazia uma visita guiada, perguntavam-me como se iria chamar a bebé; ainda não tinha decidido e, para descartar a pergunta, respondia ‘Josefina’.” O nome, diz, “foi entrando”, e quando avançou com o ateliê resgatou a “Josefina”.

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Rita Faustino © Nuno Miguel Coelho

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Experimentar Luzes, Oficina Josefina © DR

São muitos os workshops e as oficinas desenhados por Rita para partilhar os conhecimentos e as técnicas artísticas que tem adquirido ao longo da vida. “Esta é a minha identidade – a ‘confusão’ que se vê: pinturas, desenhos… Quando olho para o trabalho que vou expondo, vejo todo o meu percurso, ainda antes das Belas Artes – os bordados estão comigo desde os cinco anos, quando fiz um bordado pela primeira vez. Gosto de partilhar os meus conhecimentos com as pessoas”, diz, sorridente.


Além dos workshops de cerâmica, bordado e macramé para adultos, todas as semanas, às quartas e quintas, das duas às quatro, há aulas de cerâmica, procuradas, sobretudo, por “quem quer limpar  a cabeça”. Aos domingos, durante a manhã, há oficinas para bebés, a partir dos oito meses, e oficinas para famílias, durante a tarde. Em dezembro, estão agendadas duas oficinas para bebés – Experimentar Cerâmicas e Experimentar Luzes, nos dias 7 e 21 – e duas oficinas para famílias – Cerâmica Lab e Globos de Neve, também a 7 e 21 (consulta a secção Famílias). Durante este mês, a Oficina Josefina vai, também, estar fora de portas: nos dias 8 e 23 de dezembro, Rita Faustino estará na Tenda Cristal, no Mercado de Natal, na Cordoaria, a orientar duas oficinas natalícias (gratuitas), no âmbito da programação festiva da Ágora.

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© Nuno Miguel Coelho

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