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Quem conta o Porto acrescenta um ponto
Niubis Mustelier: uma “embaixadora” de Cuba no Porto
Entrevistas
Porto com Salsa
Quem conta o Porto Niubis Mustelier

Niubis com uma aluna numa aula de salsa © Nuno Miguel Coelho

Descemos até ao Piso -1 do Centro Comercial Brasília, na Boavista, para conhecer a Porto com Salsa, uma escola de dança com alma caribenha. Niubis Mustelier, diretora e professora de dança daquele espaço, chega com um sorriso que antecipa o calor dos ritmos que vamos ouvir. Natural de Santiago de Cuba, ela é a alegria em forma de gente. Essa alegria, acredita, está ligada à dança. Ainda em Cuba, licenciou-se em Arquitectura e depois fez um mestrado e um doutoramento na área da Engenharia no Brasil – país onde viveu antes de aterrar em Portugal, em dezembro de 2006. O seu sonho, diz, sempre foi abrir uma escola de dança; foi nesta cidade que o sonho se materializou.

Para Niubis, “a dança é tudo”. “Eu sempre conto esta história: lembro-me que, desde pequena, os meus pais levavam-nos a mim e à minha irmã a casa dos nossos avós e juntávamo-nos com os primos e fazíamos uma competição de dança entre nós. Culturalmente, Cuba tem muita dança”, ressalva. Admite que não se considera “uma super dançarina”, mas sabe que “ensina bem”. “Eu sou professora, mas dançarina há [melhores]. Eu acho que promovo é a alegria de Cuba na simplicidade da rua. Eu consigo chegar a qualquer lugar e coloco toda a gente no embalo da cultura cubana. Eu chego e fico interagindo muito, e as pessoas ficam alegres de ver, mas eu acho que a maioria dos cubanos são pros [a dançar]. Eu acho que sou pro para os outros”, ri-se. 


“Eu tenho cara de pau – que é preciso ter; é importante não teres vergonha de chegar e plantares a tua bandeira. Eu sou signo Leão, sou muito cheguei, chegando”, atira, animada. “Quando eu cheguei cá, havia uma banda cubana que tocava no Guarany, nos Aliados. Quando chegava lá, estava todo mundo envergonhado. Eu descia pela rua já a dançar. Quando olhava para trás, o povo todo também já estava a dançar.”


Esta professora afirma que “a dança é o melhor que sabe fazer pelo seu país” e salienta que são “as suas raízes”. “Via a minha família toda dançar e via a alegria em minha casa, que era ponto de encontro para as festas. Achei que, quando saísse de Cuba, ia acabar, mas não.” 


Quando chegou ao Porto, começou a participar com o marido (de quem, entretanto, se separou), que já vivia cá, em festas e eventos onde ambos mostravam a cultura cubana, e eram convidados a ensinar a dançar – era o início da Porto com Salsa.

Quem conta o Porto Niubis Mustelier

© Ana Caldeira

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Aula de salsa © Ana Caldeira

Quem conta o Porto Niubis Mustelier

© Nuno Miguel Coelho

Niubis, que mantém um ritmo de conversa animado, misturando português e espanhol, conta que, antes de abrir a escola, foi a várias escolas de dança onde, supostamente, se lecionava salsa cubana, mas onde encontrou aquilo que apelida de “salsa imperialista”. “As danças cubanas foram muito desmeritadas [desacreditadas] por professores portugueses”, lamenta, acrescentando que “a salsa que se ensina em Portugal é a de Nova Iorque e a de Los Angeles”. “Para o homem é muito mais simples; o homem fica parado, e a mulher fica a rodopiar” enquanto a salsa cubana “é mais difícil; rodopiam os dois e o homem tem muita liderança; [a salsa cubana] puxa muito por eles.” Conta que foi aí que pensou: “esta é a minha oportunidade de vender o que é meu, de demonstrar que vocês dançam salsa imperialista, e vou fazer uma figura!”.


Continuou a frequentar os espaços da cidade onde atuavam com frequência bandas cubanas (“havia oito ou nove bandas cubanas a atuar em diferentes espaços, mas depois [da pandemia] da Covid-19 desapareceram”). “Para ganhar nome” e angariar alunos, começou a deixar flyers da Porto com Salsa nesses espaços.


12 anos depois, a escola, que começou por se situar na Prelada e há cinco anos se mudou para o Brasília, continua de portas abertas para quem quiser aprender a dançar. Além de salsa cubana (chamada roda de casino), há outros ritmos latinos como tango argentino, bachata e bolero, mas há também funk/twerking, forró, samba no pé e samba na gafieira, quizomba e semba, e ainda dança do ventre. “Quando comecei a Porto com Salsa, pretendia ensinar apenas danças cubanas (salsa, bachata, chachachá), e eu seria a única professora, mas alguns professores começaram a entregar-me o currículo, e também havia interesse por parte dos alunos.” E neste ponto faz questão de frisar que os professores da Porto com Salsa “são oriundos dos países das modalidades de dança” que lecionam.

No início, os alunos “eram praticamente só mulheres, mas agora está muito mais equilibrado”. E tem alunos de várias faixas etárias: “vão dos 20 aos 70 anos”. “O aluno mais velho que tenho aqui é o Antero, com 75 anos, e a sua esposa, que deve ter 60 e poucos anos. E estão comigo de segunda a sábado porque têm mais disponibilidade que os mais novos.”


Ficamos a assistir a uma aula de salsa cubana lecionada por Niubis. “Vamos, companheiros de luta!”, ouvimo-la instigar os alunos. Ali, confirmamos, sua-se as estopinhas. Niubis grita “dureza!” e ri-se.


Além da Porto com Salsa, e graças a uma colaboração com a associação Espaço T, Niubis também leva alegria, através da dança, a idosos, a pessoas portadoras de deficiência e a crianças carenciadas. “Comecei a dar aulas de dança a idosos, à quinta-feira, no Espaço T, e depois comecei a trabalhar com meninos com síndrome de Down. Agora, à segunda-feira, dou aulas na União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira a utentes do Hospital Pedro Hispano; à terça-feira de manhã, dou aulas no Centro Paroquial de Leça do Balio; à quarta-feira, a crianças da Escola Padre Américo, e à sexta-feira, na Obra Social Nossa Senhora da Boa Viagem e no Centro Social e Cultural de Custóias.” 

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© Nuno Miguel Coelho

Noites Cubanas

Além das aulas de dança, a Porto com Salsa também é palco das Noites Cubanas, que costumam acontecer uma a duas vezes por mês com música ao vivo pelos Los Cubanitos. As próximas datas são 12 de julho e 21 de agosto.

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Noite Cubana, agosto 2023 © Porto com Salsa

"A minha casa é o Porto"

A viver há quase duas décadas no Porto, diz que esta é “a sua casa”, mas admite que no início lhe custou. “O que me aguentou para não ter saudades de Cuba, foi encontrar bandas cubanas, e então ia aonde houvesse bandas cubanas a tocar”. Hoje, esta cubana, naturalizada portuguesa, afirma: “O Porto é a minha cidade de coração. Sou feliz aqui, e agradeço muito ao povo português. Embora fale portunhol, a minha casa é o Porto.”

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© Nuno Miguel Coelho

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