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Portografia
In Trux We Pux 01
Galeria
E o espírito vanguardista musical do Porto
Portografia: In Trux We Pux 01

Nesta edição dedicada, em grande parte, à música, desafiámos Armando Sousa, arquivista e programador da Fonoteca Municipal do Porto (FMP), a selecionar um disco deste arquivo público que se ligasse à cidade. A escolha recaiu sobre In Trux We Pux 01, lançado a 23 de outubro de 2020, o primeiro de uma coleção, composta por quatro discos, conduzida pela Favela Discos, que se propôs “a registar e expor um conjunto de correntes sonoras e de práticas colaborativas que se tem desenvolvido no cenário da música experimental e improvisada feita no Porto”. Este projeto foi apoiado pelo Município do Porto no âmbito do programa de apoio à criação artística Criatório 2019.


Este disco, diz Armando, “representa a relação da música experimental com a cidade, a forma como a cidade incorpora o experimentalismo, a vanguarda musical, a improvisação e a colaboração entre os músicos, que é fundamental”. “Todas estas músicas são feitas em colaboração, e isso diz muito sobre aquilo que acontece no Porto; neste caso, é uma fotografia daquilo que acontecia aqui em 2019 e em 2020, num contexto de pré-pandemia”, defende.

Portografia: In Trux We Pux 01

Armando Sousa © Rui Meireles

Portografia: In Trux We Pux 01

© Rui Meireles

Este primeiro volume, masterizado por Rafael Silva, contém uma seleção de 23 músicos provenientes de diferentes campos da música eletrónica, que foram convidados a colaborarem e produzirem uma faixa inédita. A capa do disco conta com uma fotografia de Nuno Oliveira e o design gráfico ficou a cargo de Rita Castilho.


“A escolha deste disco também é para contrariar a ideia de que a Fonotoca é um arquivo morto, de discos antigos; é uma coleção que, em todos os momentos, quer manter-se viva e relacionada com a cidade”, sublinha Armando. “Quis escolher um disco que tivesse uma relação o mais direta possível com a cidade e que, de alguma forma, refletisse o seu espírito”, defende.

Portografia: In Trux We Pux 01

© Rui Meireles

Fonoteca Municipal do Porto: Um espaço de escuta ativa


O projeto da Fonoteca começou em 2018 com a missão de dar vida ao arquivo sonoro da Biblioteca Municipal do Porto, depositado na Biblioteca Almeida Garrett, e que consistia em duas grandes doações, uma da Rádio Renascença e outra da secção norte da Rádio Difusão Portuguesa, que somavam mais de 34 mil discos. Em 2020, a Fonoteca mudou-se para o edifício da Arda Recorders, em Campanhã. Armando Sousa acompanhou o projeto desde o início. “Posso dizer que tive a sorte de ver o bebé crescer.”


Hoje, são mais de 35 mil os discos à espera de serem descobertos e escutados na Fonoteca.  Armando Sousa insiste que se deve ir à Fonoteca, sobretudo, “para descobrir”. “Esforço-me muito para que isto seja um espaço de descoberta”, afirma. É ele o responsável pelas atividades e sessões de escuta que se realizam semanalmente: todas as quartas-feiras, às 18h00, há Hora de Ponta — uma hora de escuta e partilha de música subordinada a um tema diferente; e uma vez por mês, ao sábado de manhã, acontece uma Escuta Ativa. “Mais do que a simples audição de um disco, a Escuta Ativa pretende proporcionar uma imersão total numa experiência de escuta e atenção, de forma a apreciar a música a diferentes níveis.” Todos os meses, personalidades de diferentes áreas são desafiadas a partilhar experiências pessoais e histórias musicais a partir de uma seleção de discos de vinil da coleção da FMP.


Na Hora de Ponta quer resgatar-se o ritual de escuta de antigamente, “quando se comprava um disco novo e se telefonava aos amigos para virem ouvir connosco”. “Acho que as pessoas se sentem mais confortáveis em vir nestas circunstâncias de descoberta ou de redescoberta”, afirma. “Apesar de haver mais podcasts, as pessoas têm menos paciência para ouvir; para ouvir os outros, para ouvir música”, diz Armando. A culpa será das plataformas que permitem, de forma imediata, “passar à frente” ou mudar de tema. Na Fonoteca, a música é outra: “O disco obriga-te a um ritmo diferente, há um certo respeito pela rotação do disco. As pessoas sentam-se e ficam a ouvir e a olhar [para o disco a girar]; o próprio movimento tem uma representação física da música.”

por Gina Macedo

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