PT
Outubro 2025
A projeção do épico Ben-hur ou do filme de animação Cinderela, os concertos de Carlos do Carmo ou de Sérgio Godinho, as atuações de orquestras nas manhãs de domingo ou os bailes de Carnaval foram memórias evocadas por alguns dos que no passado 13 de setembro voltaram ao Cine-Teatro Vale Formoso. Entre os saudosos, havia até quem tivesse estado na inauguração da sala, em 1948, onde foi exibido Uma Vida para Dois, do cineasta Armando de Miranda. Mas se o dia se fez de lembranças para muitos, foi de descoberta para outros tantos, com jovens, crianças e até bebés, além de turistas estrangeiros e novos moradores da cidade, a somarem-se a uma imensa massa de gente que passou pelo número 324 da Rua do Almirante Leote do Rego, em Paranhos.
© Andreia Merca
A fila que se formava à entrada do edifício modernista, projetado por Francisco Fernandes Granja da Silva, fazia lembrar outros tempos, dizia uma senhora de cabelos brancos. “Tempos” que se estenderam até aos anos 80, altura em que o Vale Formoso começou a perder público e teve o mesmo destino de muitos cineteatros do país: fechar portas. Antes, fora uma das principais salas de espetáculos do Porto, em que se destacava uma programação de cinema que costumava encher os dois enormes balcões, cuja beleza e extensão remontam mesmo a outra época.
No início dos 90, a Igreja Universal do Reino de Deus comprou o edifício, que utilizou como local de culto durante duas décadas, sem realizar alterações estruturais significativas além de instalar uma espécie de claraboia gigante em forma de cruz e de cobrir com betão o palco de madeira original, atrás do qual construíram uma pequena piscina [sim, uma piscina!], supostamente para ser usada nos batismos.
© Andreia Merca
© Andreia Merca
Depois de vários anos sem atividade, o edifício foi, em 2021, classificado pela Câmara do Porto como Conjunto de Interesse Municipal, tendo em vista a sua preservação, e foi considerado um equipamento “de valor cultural significativamente relevante”. No passado mês de agosto, o imóvel, que em termos gerais aparenta estar em bastante bom estado, foi comprado pela UAU, produtora e promotora de “espetáculos, digressões e eventos”.
Foi para que a comunidade se pudesse despedir do antigo Vale Formoso que a empresa promoveu este dia aberto, em que também se apresentou o projeto de reabilitação a implementar, a cargo do consórcio de arquitetos Metrourbe e Arsuna. Segundo um dos seus responsáveis, “tudo será mantido igual”, incluindo o belo fresco da autoria do pintor António Pedro Figueiredo e o friso existente na fachada principal, dois elementos cujo futuro despertou grande afeto e preocupação em muitos visitantes. A única parte a destruir por completo será o palco (com piscina incluída), para dar lugar a uma estrutura nova, mais moderna, adaptada às exigências técnicas dos eventos atuais.
Imagens do projeto de reabilitação apresentado © Andreia Merca
© Andreia Merca
© Andreia Merca
© Andreia Merca
Nos pátios que ladeiam o cineteatro, onde chegou a haver uma pista de patinagem, mas agora apenas resistem mantos verdes e roxos de bravos gladíolos, será criado um jardim de inverno, um restaurante que estará aberto diariamente e um pequeno palco.
Pela última ou pela primeira vez, foram mais de 2 800 as pessoas que quiseram ver o “velhinho” cineteatro. Adeus, Vale Formoso, e até breve.
© Andreia Merca
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