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São quatro bandas que espelham a diversidade de sonoridades dentro do prog rock. No dia 25, no CCOP, a lírica dos Needle, a imponência dos Living Tales, a engenharia dos Phase Transition e o ecletismo dos Rei Bruxo juntam-se para dar origem a um novo festival na cidade: o Porto Prog Night.
De onde vem um festival? No caso do Porto Prog Night, vem do vazio — Fernando Maia (da organização, mas também baterista nos Phase Transition) fala-nos de como o festival "surge da necessidade de preencher um vazio na oferta de rock progressivo, que em Portugal é um nicho, mas que lá fora tem vindo a crescer". Beatriz, também da organização, fala de como "há um festival de rock progressivo de grande dimensão em Tomar, o Comendatio, mas aqui, o norte, está um pouco abandonado".
Sobre esta primeira edição, Fernando defende que a escolha de bandas cobre "linhas paralelas, mas que no fundo chegam ao mesmo destino". Um por um: "Há coerência entre as várias estéticas. Misturam-se elementos muito diferentes, como, por exemplo, uma banda mais sinfónica, Living Tales, com riffs mais agressivos. Ou Needle, que cria aquela atmosfera mais espacial. Rei Bruxo, mais fundamentados naquilo que são as raízes de Portugal e toda o seu lado experimental. Ou mesmo Phase Transition, com as suas pequenas particularidades, como usarmos o violino".
Há também algo que une as quatro bandas: todas têm uma mulher como vocalista, algo que não é de todo comum dentro de género. Beatriz diz ser "inteiramente uma coincidência, mas algo que nos deixa felizes". Contudo, acrescenta que é verdade que "no prog se encontram mais mulheres na audiência do que o habitual em festivais de metal, por exemplo".
Sobre o futuro do festival, Fernando tem um cenário preparado, e claramente acarinhado: "termos uma edição ao ar livre, com grandes nomes internacionais, mas mantendo uma grande fatia de bandas portuguesas". Caso pudessem pensar que se trata de uma utopia, esclarece que "não é fantasia, é mesmo um objetivo concreto". "Mas, para já, estamos focados no sucesso desta primeira edição, e queremos na próxima já poder contar com mais apoios institucionais."

Fernando Maia e Beatriz Moreira, da organização do Porto Prog Night © Andreia Merca
Em jeito de provocação, pedimos-lhes uma definição do que é, para eles, o prog rock. Fernando opta por evocar a imagem de uma folha em branco, uma referência a todas as possibilidades que cabem dentro do género. Já Beatriz refere-se ao prog como um "brinquedo": "à medida que envelhecemos, ganhamos restrições, e perdemos a criatividade inata de uma criança. E sinto que o prog nos deixa voltar a esse lugar."

© Andreia Merca
Sofia Beco, dos Phase Transition
Os Phase Transition começam como uma forma de músicos aperfeiçoarem a técnica. Amigos da Faculdade de Engenharia, encontravam-se para tocar canções de bandas que respeitavam. Quando surge a oportunidade de tocar ao vivo, apresentam-se com "covers, mas com arranjos nossos". A (boa) experiência levou-os a dar o salto com composições próprias: "o nome da banda acaba por espelhar esta transição da fase de tocarmos arranjos para algo mais sério.”
Depois do primeiro EP, em 2020, lançaram este ano o seu primeiro álbum, "In Search of Being". A atuação no Porto Prog Night será a primeira apresentação ao vivo deste trabalho, sendo que Sofia promete estarem já a trabalhar no próximo.
Sobre o que o prog é para Sofia, fala-nos de uma liberdade para cruzar territórios. "É um género que permite experimentar e juntar estilos improváveis. Há bandas que se cruzam com o jazz, e mesmo nós usamos violino. Permite uma enorme exploração rítmica e melódica".

© Andreia Merca
Soraia Silva dos Needle
Os Needle estão já em trabalho avançado no seu segundo álbum, mas Soraia avisa que nada dele será tocado no sábado: "somos um pouco perfeccionistas, o álbum só vai estar cá fora quando sentirmos que está pronto".
Assim, no dia 25 vão apresentar "Fall", álbum de 2023. A história de Soraia com a banda começa com um mergulho de cabeça: "o projeto anterior, os More, era uma banda de que eu gostava muito. Quando um dia a vocalista deles não conseguia ir a um concerto no Metal Point, convidaram-me para a substituir. Só tive dois ensaios antes do concerto, o que vale é que eu já conhecia as canções".
Soraia admite que a banda aprecia particularmente a capacidade do prog de experimentação em diferentes sonoridades: "não me interpretem mal, mas nós costumamos dizer que fazemos música de que nós gostamos, não fazemos música para as outras pessoas gostarem. Mas se, por acaso, houver alguém que goste dela connosco, nós ficamos muito agradecidos".
Assim, não é surpresa quando, indagada sobre o que é o prog , Soraia responde que "é um género que me faz pensar nos quadros do Pollock. É um pouco o que fazemos nos ensaios, é o nosso processo criativo: sem linhas definidas, atirando 'pintinhas' e vendo o que se vai formando".

© Andreia Merca
Ana Isolda dos Living Tales
Os Living Tales atravessaram diversos tipos de formações ao longo do seu percurso, mas, neste momento, estão com o alinhamento de voz, guitarra, bateria e baixo. Ana fala-nos de estarem a ponderar no futuro virem a adicionar um teclista, mas ressalva que "a banda passou por uma transição gigantesca e, a meu ver, encontrou-se neste últimos dois álbuns".
Com um som operático de metal sinfónico, os Living Tales trabalham ao vivo com backing tracks, até porque, segundo Ana "o novo álbum está até um pouco mais agressivo do que o anterior, e a parte sinfónica está muito presente".
Para Ana, o prog rock é "algo fora da caixinha, um elemento surpresa". "E isso é algo que até acontece principalmente nos concertos, porque conseguimos partir do conceito que as pessoas têm do álbum, e brincar com isso".

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