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Outubro 2025
A 4 de agosto de 1995 a R. de Passos Manuel encheu-se de notáveis, protagonistas da cena cultural e de muitos, muitos portuenses. Estava em causa um levantamento popular contra a venda do Coliseu do Porto à Igreja Universal do Reino de Deus. O resultado do chamado “Verão Quente de 95” foi a criação da Associação Amigos do Coliseu, ainda hoje responsável pela preservação de um equipamento cultural de referência no norte de Portugal.
Falámos com Valdemar Cruz, autor do livro O Coliseu é Nosso, que cristaliza os factos e os protagonistas de um momento gravado na memória coletiva da cidade.
Para o escritor e jornalista do Expresso, o livro serve para colmatar uma “memória difusa” e um arquivo que, “apesar do caudal informativo da altura, tem informações muito difusas, dispersas”. Fruto de um trabalho investigativo, o livro conta, ainda, com entrevistas aos protagonistas de então, aos quais Valdemar propôs também “olhar com os olhos de hoje para o que aconteceu na altura”.
Embora em 1995 Valdemar fosse já jornalista, acompanhou a situação apenas a título pessoal: “Para mim, o que era relevante era o Coliseu perder as funções para as quais foi criado. Perder o lugar central – até do ponto de vista geográfico – como uma componente cultural da cidade”. De resto, um ponto de vista que viu refletido nos seus entrevistados: “Os artistas disseram-me agora repetidamente que o Coliseu era a única grande sala de espetáculos do norte do país. Perdendo-a, haveria um desequilíbrio muito maior com Lisboa”.
Manifestação de 4 de agosto de 1995 © Adelino Meireles / Público
Manifestação de 4 de agosto de 1995 © Adelino Meireles / Público
O que torna aquele dia especial, segundo o autor, é ter sido “um raro momento em que as instituições se associam aos movimentos populares”. Questionado sobre se este momento se poderia repetir, defende-se com o facto de “a história não ser feita de ‘ses’”, mas que, “neste momento, provavelmente não estão reunidas as condições para grandes movimentações populares, até porque ao longo dos anos houve uma grande demonização dos movimentos de rua”. “E se as pessoas não estão disponíveis para virem à rua lutar por coisas mais íntimas como, por exemplo, direitos do trabalho, então não estariam de certeza para lutar por equipamentos culturais.”
Sobre o livro, o escritor promete surpresas. Como o momento icónico em que Pedro Abrunhosa se algema ao Coliseu, e que, na verdade, dependeu de um acaso: “o livro tem muitas histórias dessas, histórias absolutamente surpreendentes, inesperadas, em que as próprias pessoas são apanhadas pelos acontecimentos”.
Manifestação de 4 de agosto de 1995 © Adelino Meireles / Público
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