PT
outubro 2025
De 30 de outubro a 2 de novembro, a MICAR - Mostra Internacional de Cinema Anti-Racista regressa ao Batalha com mais filmes e conversas. Este ano, o programa é sobre as migrações.
Corpos em Movimento: da Migração, do Desejo e do Direito ao Lugar
Promovida pelo núcleo do Porto do Movimento SOS Racismo, a MICAR dá a conhecer outras cinematografias, ampliando o debate sobre populações marginalizadas e discriminadas. “A cada edição, procuramos articular um tema [chapéu] e desenhar uma programação que tenta expandir esse tema”, conta Rita Ferreira, da MICAR, à Agenda Porto. Este ano, em destaque vai estar a migração por ser “um tema quente”.
“Queremos pensar sobre a migração: porque é que nos movimentamos, já que nos movimentamos há séculos e desenhamos fronteiras há séculos; quais [os motivos] destas migrações – os problemas climáticos ou as guerras, mas também vontades de existir, como, por exemplo, vontades de existir em identidades de género, identidades sexuais”, desfia a designer gráfica.
Provocar no público o sentimento de empatia pelo outro e criar espaço para uma reflexão sobre os problemas do mundo atual são os grandes objetivos desta mostra de cinema ativista.
“A migração está a ser o bode expiatório, e, na verdade, são os migrantes que estão em condições frágeis e precisam de apoio”, afirma. Neste sentido, pretende-se, com esta mostra, que “o público consiga criar uma relação com as histórias” que são contadas. “A tela aproxima as pessoas destas histórias; o cinema tem esta capacidade de gerar carinho e empatia”, acredita.
BLKNWS: Terms & Conditions © DR
Ao longo de quatro dias da mostra, vão decorrer 15 sessões com 24 filmes – todos de entrada gratuita.
“Nas onze edições anteriores, trouxemos filmes duros ou “violentos”; quando o público sai das sessões, ouvimos muitas vezes a expressão ‘que soco no estômago!”’, refere Rita. Por isso, para esta edição, a equipa da MICAR quis “trazer filmes que celebram e que são felizes, que são luminosos e benévolos”. “Este ano, a grande novidade é que temos filmes que têm as suas violências, mas que são, sobretudo, de celebração”, sublinha.
Na sexta-feira, 31 de outubro, a Sessão Clássicos apresenta dois títulos: Nationalité Immigré, uma docuficção de Sidney Sokhona, de 1976, antecedido pela curta-metragem Daydream Therapy, de Bernard Nicolas.
Destaque, também, para o filme de abertura da mostra, na noite de sexta-feira: BLKNWS: Terms & Conditions, de Kahlil Joseph (2025), descrito como “uma enciclopédia audiovisual da cultura negra, estruturada em 21 entradas que fundem arquivo, ensaio, ficção científica e reinterpretações históricas”.
Nationalité Immigré © DR
Letters from Wolf Street © DR
Letters from Wolf Street, no sábado, 1 de novembro, às 19h15, promete ser um dos filmes mais ternos da programação. Nas palavras de Rita, trata-se de um filme “muito carinhoso”. “Num momento em que vemos a extrema-direita ascender em toda a Europa, é um filme que cria relações de afeto numa rua, na Polónia, e que faz lembrar um bocadinho o cinema da Agnès Varda. É uma destas peças que entendemos que são felizes, que vão, até, no sentido contrário das violências, mesmo que estejam no meio das violências”, desfia.
No domingo, 2 de novembro, às 19h15, a mostra dedica uma sessão ao tema do trabalho sexual com Um Caroço de Abacate, de Ary Zara, e Kokomo City, de D. Smith.
No mesmo dia, um pouco mais cedo, às 17h15, é exibido A Fidai Film, de Kamal Aljafari. “Pode parecer estranho este filme estar numa mostra sobre migração, mas é fruto de uma outra migração”, explica Rita. “É um arquivo palestiniano, roubado por uma força de ocupação israelita, e o realizador Kamal Aljafari trabalha em cima de imagens roubadas. Portanto, o filme é ele próprio um objeto em movimento porque resulta de um movimento de roubo e de recuperação, e é um trabalho feito em cima do arquivo. De alguma forma, é um palimpsesto.”
Além das exibições de filmes, há também espaço para conversas: “em todas as sessões, os espectadores podem contar com um debate no final, ou uma apresentação no início”. E, à semelhança das edições anteriores, será lançado o Caderno MICAR, que estará à venda no segundo piso do Batalha a par de outros livros e publicações do Movimento SOS Racismo.
MICARzinha
Durante a mostra, há, ainda, duas sessões dedicadas ao público mais jovem e, em articulação com as escolas, são exibidos vários filmes para crianças e adolescentes, desde o 1.º ciclo ao ensino secundário. “A MICARzinha acontece ao longo de todo o ano, porque temos depois sessões nas escolas. Na mostra, vamos começar por exibir três filmes para o primeiro e segundo ciclos e um filme para o terceiro ciclo e secundário, e depois ficamos um ano inteiro a trabalhar [esses filmes] nas escolas”, explica Rita.
MICARzinha © Flávio Pires
Uma mostra feita de dedicação
É uma equipa de 12 voluntários que, ano após ano, coloca de pé a MICAR. Entre eles está Rita Ferreira. O projeto “é feito com muito trabalho, nas horas livres, que não são livres”. “Todos fazemos as mesmas coisas: vemos os filmes e programamos; claro que há pessoas que se destacam mais no trabalho de produção e outras no de programação”, conta. E acrescenta: “Não somos profissionais de programação ou produção cultural, mas sentimos que o nosso trabalho está a ficar cada vez mais profissional.”
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