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Uma alegria de outros tempos
Entrevistas
Manuel Morais, o Rei da Alegria
Manuel Morais o Rei da Alegria

Do alto dos seus 92 anos, Manuel Morais exerce no Porto um reinado incontestado — sete décadas entre a cantiga e a anedota, sob o cognome de Rei da Alegria. Este ano, a Ágora comissariou a André Tentúgal um tributo a uma carreira que é um mosaico de canção, revista, anedotas e outras variedades – tudo isto feito sempre com a cidade ao peito, e as festas de São João nunca distantes do coração.

Há uma ligação ténue do Rei da Alegria a outra figura monárquica: em 1893 o Rei D. Carlos condecorou o seu familiar João Carlos de Sousa Morais, compositor e maestro da Banda de Música de São João da Madeira, com o Grau de Cavaleiro da Ordem de Santiago. E é bastante cedo que Manuel Morais começa uma vida de espetáculo: “o meu pai organizava uns pequenos bailes em casa, cobravam-se dez tostões à entrada. Nós éramos muitos irmãos e era preciso uma ajuda. Eu cantava umas coisinhas com as minhas irmãs, e a minha tia Laura fazia vestidos em papel, adequados para as crianças.”


É neste Portugal a preto e branco que Manuel começa a alavancar o que o rodeia. Faz pequenos trabalhos para o tio – redator da revista Rádio Nacional – como estafeta que ia buscar fotografias dos espetáculos que passavam nos teatros, possivelmente sonhando já estar entre aquelas beldades de cabelos armados e homens de voz sinuosa. É aos 12 anos, no concurso de rádio À procura de uma estrela, que a carreira descola. “Fiquei nos primeiros lugares e ganhei 50 escudos, o que era muito bom para a época", conta. É recrutado para as produções radiofónicas de Fernando Gonçalves, que logo ali lhe confere o nome de artista: “A si, vou apresentá-lo como Rei da Alegria.” Tudo o resto corre a ritmo de galope, entre atuações em romarias, ópera popular, revista – “fiz espetáculos em tudo quanto era sítio; houve um dia em que fiz oito espetáculos, quatro de manhã e quatro à tarde”.

Manuel Morais o Rei da Alegria

© Rui Meireles

Manuel Morais o Rei da Alegria

© Rui Meireles

Manuel Morais o Rei da Alegria

© Rui Meireles

Um mestre de cerimónias apossado de Alegria teria, inevitavelmente, de estar associado ao São João. Como forma de augúrio, o nome de Manuel soa nas colunas de uma festa sanjoanina quando tinha apenas quatro anos. “No meu primeiro São João, fui andando pela festa fora atrás da música, e a certa altura já não via os meus pais. Tiveram de anunciar nos microfones que havia um menino perdido (risos).” Desde então, já teve a honra de ser o padrinho de várias marchas. Já teve, inclusive, de se defender neste papel: “Havia mais bairrismo nas festas, naquela altura. Houve um ano em que, quando cheguei a uma praça, ouvi umas pessoas a dizer que eu era feio por não marchar com a Sé” – mas bastou a Manuel cantarolar uma cantiga de quando foi padrinho pela Sé para logo se lembrarem que ele já lhes tinha granjeado um primeiro lugar nas marchas, em tempos.


Quanto ao São João dos dias de hoje, o Rei da Alegria tranquiliza-nos que “não mudou muita coisa”, mas, ainda assim, relembra o percurso clássico onde “as pessoas paravam nas festinhas de todas as ilhas, e das Fontainhas à Ribeira corria-se a coxia toda, até de manhã; algumas pessoas adormeciam na praça, bem comidas e bem bebidas (risos)”.

Após o balanço da longa vida que passou, Manuel confessa que gostava de ser recordado de uma forma simples, e para a qual sempre trabalhou: como Rei da Alegria. E acrescenta: “Quero ser recordado como no quadro que o meu grande amigo Luís Daniel me fez, sorridente. Não quero choros no meu funeral, quero que haja risos.”

Manuel Morais o Rei da Alegria

© Rui Meireles

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