A Filmoteca, projeto do Batalha Centro de Cinema, é um acervo de filmes em permanente construção que têm no Porto o seu centro gravitacional: sejam eles produzidos por autores portuenses ou rodados na cidade. Estes filmes podem ser visionados em duas cabines na Biblioteca do Batalha, e integram um arquivo em crescimento exponencial: nos dois anos de existência do projeto, o total de filmes que integram a Filmoteca passou de 20 para 200.

Esta coleção inclui ficção, documentário, e mesmo até videoclipes. As cabines onde o visionamento pode ser feito estão ao alcance de Rodrigo Affreixo, sempre pronto a dar uma sugestão para quem quer experimentar a plataforma.

Ambre Solaire
Realização: Ângelo de Sousa
1969-1971, 11'

Este filme foi rodado em 8mm pelo pintor e escultor portuense Ângelo de Sousa inteiramente a partir da sua casa, no cruzamento da Rua da Alegria com a Rua de Fernandes Tomás. Ali ainda é possível encontrar um hotel que estava precisamente em construção durante a rodagem do filme — e cujos tapumes de obra serviram como cenário.

Inteiramente em plano fixo, Rodrigo descreve como "uma série de painéis publicitários da marca Ambre Solaire, com uma modelo que se banha ao sol, que serve de fundo para os peões que por ali passam". E destaca o "contraste entre a modernidade do cartaz e a ancestralidade das pessoas que passam frente a ele, como peixeiras ou vendedores de bolos".

A Propósito da Inauguração duma Estátua — Porto, 1100 Anos
Realização: Artur Moura, Albino Baganha, Lopes Fernandes
1970, 23'

Originalmente uma encomenda da Câmara Municipal do Porto ao realizador Manoel de Oliveira, o mote foi o da inauguração da estátua equestre de Vimara Peres junto da Sé Catedral. Contudo, Manoel de Oliveira acaba por apenas produzir e supervisionar.

Rodrigo realça que o filme final capta não só a inauguração da estátua, como "faz um levantamento da história da cidade, e traça um retrato da cidade como ela era naquele tempo". Sublinha, ainda, que é "curioso como o filme tem uma vertente institucional, mas tem também uma vertente artística pela mão de Manoel de Oliveira".

Casas para o Povo
Realização: Catarina Alves Costa
2010, 15'

As restantes três recomendações de Rodrigo Affreixo versam sobre "um problema que temos na cidade neste momento", que é a questão da falta de habitação.

Casas para o Povo conta a história do SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local), um movimento lançado após a revolução por um grupo de arquitetos, que respondia à luta de rua dos moradores pobres no Verão quente de 1974. A partir de registos pessoais e fotografias de manifestações de rua, a realizadora reconstrói "uma proposta alternativa, utópica, uma reflexão nova sobre a cidade".

Bairrismos
Realização: Pedro Neves
2015, 62'

Bairrismos é um olhar sobre a realidade de cinco bairros municipais da cidade do Porto. Da zona oriental à ocidental da cidade, ouvimos e vemos os habitantes dos bairros Rainha D. Leonor, Cerco, Duque de Saldanha, São João de Deus, Santa Luzia e Maceda.

Rodrigo Affreixo salienta que o realizador Pedro Neves "tem vindo a desenvolver muito trabalho sobre este universo dos bairros", onde mora quase 30% da população da cidade do Porto.

Cães que ladram aos pássaros
Realização: Leonor Teles
2019, 20'

Este filme, o mais recente da lista, é sugerido por Rodrigo por "olhar a questão da habitação a partir da gentrificação e do turismo".

O nosso ponto de vista é evidenciado por Vicente, um adolescente que, montado na sua bicicleta, nos mostra "a transformação urbana a cada dia que passa".