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A 14 de fevereiro estreia no Teatro Campo Alegre O Fim Foi Visto, espetáculo escrito por Teresa Coutinho que é uma reflexão urgente e poética sobre opressão, memória e resistência.
Fomos ao encontro da atriz e dramaturga Teresa Coutinho, para descobrirmos o que a levou a escrever esta história que visita o passado e nos alerta para os perigos da ascensão da extrema-direita e a perpetuação de mecanismos de opressão. Inspirada na obra Cassandra, de Christa Wolf, e numa investigação profunda sobre a caça às bruxas, esta peça constrói uma narrativa provocadora e visceral que convida o público a refletir sobre o presente e a calcular futuros alternativos.
“Há muitas coisas que são muito fortes no texto da Christa Wolf para mim. A ideia da Cassandra como alguém que vê, que profetiza, mas em que ninguém acredita – isso ressoou comigo de forma profunda”, partilha, frisando que o mito clássico foi o ponto de partida para explorar a intuição feminina e as formas como as mulheres têm sido sistematicamente desacreditadas ao longo da história.
Teresa Coutinho © Rui Meireles
Em diálogo entre o passado e o futuro
Entre pesquisa histórica e criação autoral, Teresa transporta para o palco uma ditadura onde as mulheres, acusadas de bruxaria, veem os seus direitos brutalmente restringidos. “Interessei-me muito pela caça às bruxas enquanto fenómeno histórico, porque percebi como foi utilizada para controlar o corpo da mulher e garantir que ela estivesse ao serviço do capitalismo e da criação de mão de obra.” Inspirada por autoras como Silvia Federici, a dramaturga analisa como esta violência institucional moldou práticas sociais e médicas que reverberam até os dias de hoje.
Além de explorar questões históricas, o espetáculo também faz um alerta contundente sobre os perigos do medo e da passividade em tempos de crise. “Os direitos que conquistámos são maravilhosos, mas muito frágeis. Basta olhar para os recuos no direito ao aborto nos Estados Unidos para percebermos que nada está garantido”, reforça, sublinhando a importância de permanecermos alerta.
"Estrear aqui é como apresentar isto à família. O Porto é a minha casa, e há algo muito forte e emocional em trazer este trabalho para este público."
O Fim Foi Visto © Rui Palma
Arte como espaço de cura e resistência
Para Teresa Coutinho, O Fim Foi Visto é, também, uma celebração do encontro, do coletivo e da capacidade de resistir através da beleza. “A alegria é resistência. O espetáculo não é só dor e tragédia; também celebra a resiliência, a capacidade de rir, dançar e de criar mesmo nos momentos mais difíceis”, afirma, destacando que o coro de 13 atrizes em cena reflete uma força coletiva que transcende o individual.
Neste processo, a cidade do Porto, local de estreia da peça, ocupa um lugar especial. “Estrear aqui é como apresentar isto à família. O Porto é a minha casa, e há algo muito forte e emocional em trazer este trabalho para este público”, diz, com entusiasmo.
Uma chamada à ação
Mais do que um espetáculo, O Fim Foi Visto é uma convocação. Uma oportunidade para refletir sobre o papel de cada um na construção de um futuro mais justo. “Acredito que a arte tem o poder de despertar e transformar. Mesmo que apenas uma pessoa saia do teatro com uma consciência mais crítica sobre o mundo que nos rodeia, já valeu a pena”, conclui Teresa.
O convite está feito: nos dias 14 e 15 de fevereiro, o Teatro Campo Alegre é palco de uma experiência transformadora. Porque, como defende Teresa, “o mais belo é ver”.
por Maria Bastos
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