PT
Setembro 2025
As festas Suave Geração estão quase a cumprir uma década — mas mantêm-se fiéis aos princípios fundadores: uma matinée dominical, num ambiente propício ao convívio, e num espaço ao ar livre sem propósitos comerciais. Este ADN tem conduzido estas festas por espaços periféricos — seja na geografia ou nos roteiros das massas de público. Falamos com três pessoas da organização para perceber o que move este verão eterno.
Bruno Martins — também conhecido pelo seu nom-de-plume Bruno de Seda — relembra que em 2016 a ideia era “fazer uma festa com uma curadoria musical que servisse o convívio, e não o contrário”. Ou seja, eventos musicais que não fossem “mutuamente exclusivos com o diálogo e a confraternização”. Mas essa é apenas metade da fórmula: cada local das festas Suave Geração é escolhido com um dedo criterioso e carinhoso, conforme nos explica Zé Pedro Santos. “Acima de tudo, evitamos sítios que tenham um propósito estritamente comercial, como bares. E procuramos sítios que façam parte da história da cidade, do seu património. Isso é algo que acaba por nos levar às coletividades e associações.
Zé Pedro Santos, Bruno Martins e Bernardo Pena © João Cruz
Zé Pedro admite que “um dos objetivos também passa por essa tentativa de revitalização de órgãos e instituições que podem ter um papel fundamental nos laços comunitários da cidade”. Sobre se é de todo possível esta recuperação acontecer, Bernardo Pena aponta que “tentam fazer o seu papel, que é apresentar o espaço às pessoas e deixá-las à vontade”. “Mas posso dizer que, com frequência, vejo pessoas a fazerem-se associadas de alguns dos sítios aonde vamos. E há outros grupos que depois dão continuidade ao esforço, promovendo mais atividades nesses espaços.”
Cartazes de edições passadas do Suave Geração
© João Cruz
Esta valorização de um tecido social urbano que, em tempos, foi agregador de comunidades, mas que hoje é vítima de abandono e desinteresse, já levou a Suave Geração ao Centro Cultural de Atletismo de Bonjóia, Eirinhas Desporto e Cultura ou Bairro Social da Pasteleira, entre outros. O requisito essencial é haver espaço ao ar livre, uma vez que a própria bandeira do evento revela a adoração ao sol que os move — as festas Suave Geração são sempre ao ar livre, e ocorrem dentro de uma época que vai de junho até ao final do verão.
Festa d'O Tardo na Associação Recreativa "Os Pauliteiros de Nevogilde"
Em sentido contrário, mas num circuito paralelo, estão os roteiros de um projeto que partilha vários dos membros da organização — O Tardo, que ocorre durante o mês de fevereiro e se dedica a promover convívios em espaços igualmente periféricos, com um igual legado comunitário — e com uma figura mitológica recuperada do folclore nortenho como anfitrião. Zé Pedro indica-a como uma “festa irmã” da Suave Geração, que surge porque, “ao longo deste ano, fomos trabalhando com dezenas de organizações que não tinham um espaço ao ar livre que permitisse ter uma festa Suave Geração, mas que correspondiam a todos os critérios de ‘um espaço merecedor de atenção’. De certa forma, são festas invertidas: o Tardo é invernal, recolhido, mais aconchegado”.
A penúltima edição desta época da Suave Geração teve lugar num espaço que já repetiram algumas vezes, o Praça da Alegria Futebol Clube. No logradouro desta associação, em pleno Bonfim, a tarde começou, como sempre, às 16h20, com discos serenos que soavam pelas conversas de grupo como uma brisa, pela mão dos DJs Supa e Done Deal.
© João Cruz
Por fim, tem lugar a atuação mais esperada, e, em si, um achado que parece criado a partir dos ingredientes culturais na raiz desta festa: Manuel da Zira, um emigrante de segunda geração em França, que sobe ao palco como um toaster de reggae com sotaque do Minho. Entre homenagens às mães e ao trabalho árduo dos emigrados portugueses, houve tempo para condenações de fogo posto e hinos dedicados à figura de Aristides de Sousa Mendes. Definitivamente, um momento onde a festa contrariou os princípios fundadores e rendeu o convívio a uma atuação.
O encerramento da época deste ano de Suave Geração acontece já no dia 14 de Setembro na Associação de Moradores do Bairro Social da Pasteleira.
© João Cruz
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