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Com um programa para todos os gostos e idades, o Centro Histórico do Porto está em festa durante um fim de semana inteiro. Há música, teatro, dança, oficinas, exposições, visitas livres e guiadas, caminhadas e animação de rua, com destaque para iniciativas dirigidas às famílias e ao público mais jovem, para celebrar o Dia Nacional dos Centros Históricos, que se assinala no calendário a 28 de março.
Edifícios históricos, igrejas e museus abrem portas ao público com muitas atividades. Pintar azulejos, andar a cavalo, assistir a um concerto ou participar num peddy paper são apenas algumas.
Estamos na Rua da Reboleira, uma das mais típicas da zona ribeirinha, com traçado medieval. É fácil darmos com a grande porta da Casa-Torre, que alberga, desde 1982, a Associação Social e Cultural de São Nicolau. Trata-se de uma associação local, com várias valências, que se dedica a cuidar de pessoas seniores. Algumas serão protagonistas destas celebrações.
São amplas as janelas da sala de estar da Casa-Torre onde muitos idosos passam grande parte do tempo. Da rua chegam rumores de conversas mantidas em línguas estrangeiras. Este é um ponto de interesse turístico. “Não estamos confinados num espaço com muros, e as pessoas gostam de acenar; ainda há dias, um casal brasileiro com filhos pediu para vir cumprimentar os idosos.” A diretora da associação, Susana Vasconcelos, é entusiasta das iniciativas que os envolvem. “É uma forma de dar visibilidade aos utentes.”
Carminda Campos, © Gina Macedo
“Sempre que há qualquer coisa, eu canto”
Alice Pinto, © Gina Macedo
A Associação de São Nicolau é, desde 2018, uma das entidades parceiras do evento. A pandemia parou-os, mas retomam agora a participação com duas iniciativas. “Propomos, no sábado de manhã, uma caminhada desde o Largo da Lapa até à nossa sede, aqui, na Ribeira, com um guia turístico que fará explicações ao passar por zonas com interesse histórico”, conta. “Queremos promover o exercício físico para todas as idades e dar a conhecer a nossa sede, e a descer todos os santos ajudam.” De tarde, está previsto um “momento poético-musical”, intitulado “Os sons e os tons da Ribeira”, com o grupo coral da associação, e que tem por base as memórias e vivências daquela zona da cidade. “Ninguém é profissional do canto, mas temos uma professora que vem cá ensaiar”, revela Susana.
“Não tenho grande voz para ser voz primeira, mas tenho bom ouvido para não desafinar”, garante Alice Pinto, entusiasmada com o evento. “Sempre que há qualquer coisa, eu canto”, diz esta utente, acrescentando que “gosta de todas as canções, sendo alegres”. A componente poética ficará a cargo de utentes com queda para a poesia, como é o caso de Carminda Campos. “Sou filha da Ribeira”, é assim que se apresenta. Esta utente gosta de escrever poesia e diz que “escreve o que sente”. “Não quero dizer nada dos outros; gosto de Guerra Junqueiro, por exemplo, mas só para ler.” Desafiamo-la a dizer de cor (que é como quem diz ‘de coração’) um poema da sua autoria sobre o Porto, e Carminda afoita-se, apesar de “haver ali um meiozinho que não tem a certeza de se recordar”. Reproduzimos apenas uma quadra: Ó meu Porto, burgo antigo/ és uma bela cidade/ Tens sempre o clarão amigo/ do trabalho e da liberdade. (…)
Coordenado pelo Departamento Municipal de Gestão do Património Cultural, as celebrações do Dia Nacional dos Centros Históricos envolvem cerca de 40 entidades; entre elas, há uma estreante: a Guarda Nacional Republicana. “A GNR está sediada em muitos edifícios históricos ao longo de todo o país; faz todo o sentido associarmo-nos a estas celebrações. Aqui, estamos sediados num quartel cheio de história, e uma parte dessa história vai ser contada”, diz-nos fonte da GNR.
O quartel do Carmo, que ocupa o antigo Convento de Nossa Senhora do Carmo, da Ordem dos Carmelitas Descalços, construído entre 1619 e 1622, abre portas às 10h00 de sábado. Estão previstas visitas a zonas de exposição com objetos históricos, aos claustros (que dão sempre boas fotografias), ou à sala dedicada ao Capitão Sarmento Pimentel, que combateu a revolta monárquica de 1919, mas a principal atração será os batismos a cavalo no picadeiro “durante todo o dia e para todas as idades”.
© Nuno Miguel Coelho
© Nuno Miguel Coelho
“Em todos os pontos de visita vão estar militares a dar uma pequena explicação. Optámos por não fazer visitas guiadas em grupo porque limita as pessoas; assim, podem usar o tempo como entenderem enquanto estão nas instalações”, contam-nos.
No domingo, quem gostar de acordar cedo pode assistir, às 8h00, à cerimónia do hastear da bandeira (ou, quem for mais vespertino, ao arriar, às 18h30), “com uma guarda de honra maior, que será acompanhada pelo toque de clarins”. A GNR vai, ainda, ter atividades “fora do sítio”: no sábado, às 18h30, a Banda Sinfónica da GNR, composta por uma centena de elementos, vai atuar no Terreiro da Sé, constituindo-se como um dos momentos altos da programação; e no domingo, às 17h30, o Quarteto de Cordas da GNR atua na Igreja de São José das Taipas.
“Fora do sítio” vai estar, também, o espólio da histórica Farmácia Moreno, que será acolhido pelo MMIPO (Museu da Misericórdia do Porto). Fundada há 220 anos no Largo São Domingos, esta farmácia é, desde 2017, parceira das celebrações do Dia Nacional dos Centros Históricos. “O Porto é uma montra de história, muito rica, diversa e relevante”, afirma o diretor técnico João Almeida, salientando que o turismo “acelerou a procura e a conciliação do acervo cultural”.
“Pela antiguidade da nossa farmácia, temos muito para contar, não só numa perspetiva de ‘farmácia’, mas da evolução dos hábitos em sociedade e das histórias da cidade”, defende. “Uma vez que estamos com uma intervenção no nosso pequeno núcleo museológico, fizemos parcerias cruzadas com o Teatro das Marionetas e o MMIPO”, adianta. O MMIPO vai acolher um destaque expositivo comemorativo da Rua das Flores (que celebrou 500 anos), culminando com a história da Farmácia Moreno, uma das mais antigas do país. Por seu turno, a farmácia vai expor na sua montra as marionetas que integraram o espetáculo “O Lobo Diogo e o Mosquito Valentim”, uma coprodução do Teatro das Marionetas (2006).
© Gina Macedo
Uma máquina de enrolar cigarros (“antigamente, enrolava-se cigarros com propósitos medicinais”), cartazes publicitários ou a fórmula original, escrita à mão, de um dos medicamentos ainda hoje comercializados, o “Doce alívio”, são apenas alguns dos objetos carregados de histórias e memórias que vamos poder encontrar no MMIPO.
por Gina Macedo
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