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Sem roadies, sem assistentes de produção, sem agências de booking. O Xavalo Fest cumpriu recentemente a sua 6.ª edição, mantendo vivo o espírito fundador: apenas bandas jovens, com poucos ou nenhuns concertos em carteira, e que desafiem convenções de géneros. Em menos de dois anos, este pequeno festival tornou-se um laboratório onde a ocasional explosão é um resultado esperado. Falámos com Jorge Antunes, o homem por trás do Xavalo Fest, que tem desafiado bandas jovens a tocar neste festival.
A ideia começou logo após o primeiro concerto da banda de Jorge, o quarteto de noise Ekcetera. A flutuar com a euforia e a adrenalina da primeira experiência de palco, a banda imaginou montar um festival só com “bandas de chavalos”. Mas a ideia, proferida em tom de gozo, foi ganhando raiz, e pouco depois Jorge estava a bater a uma série de portas. Só teve uma resposta positiva quando chegou à Socorro. Devido ao horário de funcionamento da loja de discos, o festival teria de acontecer durante a tarde, acrescentando, assim, os ingredientes finais: o Xavalo Fest seria uma matiné numa cave com bandas underground 'verdes'.
Sobre o primeiro lineup, podia muito bem ter-se ficado só por um grupo de amigos, mas Jorge recorda que convidou O Triunfo dos Acéfalos, “uma banda que não conhecia pessoalmente na altura”. “Entretanto, ficámos amigos, mas também aconteceu entre os Gonkallo e os Cat Soup, que desde que tocaram na mesma edição do Xavalo Fest já fizeram algumas colaborações”. Desde então, pelo Xavalo Fest já passaram muitas estreias: os primeiros concertos de Yaatana, Bastardos Mutantes e Gonkallo, e as estreias na cidade dos Orum e dos Pato Bernardo.
© Nuno Miguel Coelho
© Inês Valentim
A fórmula do festival parece imediatamente legível: bandas novas. Mas há toda uma ética associada a esta ideia do “novo”, que se traduz em juventude (“ninguém pode ter 30 anos”), mas também em rebeldia, já que “as bandas não podem estar associadas a promotoras e a editoras”. Além desta ética do-it-yourself, há também – embora menos simbólica – uma estética associada ao Xavalo Fest, sendo que Jorge confessa “um viés”.
Sobre resultados, a primeira edição contou com mais de 200 pessoas. Além dos expectáveis amigos das bandas, houve uma grande afluência do público do underground portuense, que Jorge afirma, com orgulho, se tem mantido fiel ao certame. De facto, quando recentemente a Agenda Porto entrevistou o programador do Maus Hábitos, Luís Salgado, este admitiu ser assíduo no Xavalo Fest: “tem muita piada porque são tudo bandas de liceu. Eu vou lá ouvir, e se algo me agradar, chamo para o Maus”. Algo que Jorge contrasta, com algum regozijo, ao estado dos grandes festivais em Portugal: “há muito conservadorismo na programação. Defendem sempre muito os ideais de promoverem bandas novas, mas os cabeças de cartaz são sempre bandas estrangeiras. Depois veem-se grandes festivais nacionais a declararem falência, é o resultado desse liberalismo que diz uma coisa e faz outra”, afirma. E exemplifica: “Na Alemanha, é muito frequente os cabeças de cartaz serem bandas alemãs. A razão é simples: as bandas pequenas locais só têm hipótese de ser cabeças de cartaz aqui, e em mais nenhuma outra parte do mundo.”
Quanto a planos para o futuro, Jorge confessa que gostava de organizar um Xavalo Fest ao ar livre, idealmente até num skate park. Quanto a um futuro ainda mais longínquo, admite que gostava de trocar a Engenharia Eletrotécnica, que está a estudar neste momento, por um trabalho a tempo inteiro na música. Uma coisa é certa: venha o que vier, será sempre novo.
A Agenda Porto acompanhou o sexto Xavalo Fest, que aconteceu a 26 de abril, e que contou com as bandas Cat Soup, Mangualde e aMijas. Para ver aqui:
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