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“Nasceu no Maranhão, chama-se Lisboa, mas vive no Porto.” — É uma das muitas expressões que gravitam à volta de uma figura difícil de definir, mas fácil de gostar.
No Brasil foi DJ e trabalhou na TV Globo. Em Portugal, já foi protagonista de uma série de TV, coapresentou a Eurovisão, apresentou sessões de cinema, ilustrou cartoons, pagou finos. É um designer não-praticante, pelo que nem a formação ajuda a definir o que Wandson faz. Mas com cada nova aventura, o número de seguidores no Instagram vai crescendo, e atravessar a rua na sua companhia é garantir pelo menos três paragens a cada dez metros.
Quando se mudou para o Porto, em 2005, o mais difícil estava feito: deixar para trás os amigos e a família. Agora, parecia que a Europa era um grande mapa em branco, à espera de ser desenhado com memórias. Mas a cidade tinha outros planos. “Quando eu vim para o Porto, eu achava que era tipo uma planta dentro de um vaso que podia ir para todo lado. E de repente eu comecei a me sentir uma planta que ia criando raiz. O vaso foi sendo quebrado e o Porto foi começando a me abraçar. E eu comecei a abraçar o Porto. E de repente o Porto virou minha casa.”
Mas não há quaisquer remorsos com esta captura: “Eu me refiz. Refiz a minha vida. Refiz muitos amigos. Construí uma casa. Construí uma vida.” Wandson fala com carinho sobre os vizinhos, sobre estranhos e conhecidos que se encontram nos cafés. Todas elas, pessoas a quem é bom dar um abraço. “Acho que os melhores abraços que eu dei na minha vida foi no Aduela. De certeza. E muito bêbado, mas muito feliz. Bêbado consciente, porque eu lembrava no dia seguinte que eu dei abraço.”
A descolagem para o estrelato nas redes começou com as cuidadas fotografias com alguns brinquedos. Com fundos sólidos e enquadramentos ternurentos, estas fotografias acabaram por resultar em algo que nos dias de hoje parece já arcaico: artigos em imprensa digital onde Wandson constava como um utilizador de nota no Instagram. Com um cenário atual onde cada vez mais pessoas assumem este papel de “produtores de conteúdo”, com uma fragmentação natural em centenas de milhares de pequenos líderes de nicho em cada país, esses artigos parecem já não ser possíveis — mas Wandson continua a ser uma referência transversal a nichos. Talvez o segredo deste “ídolo acessível” seja mesmo esse: neste cenário digital, saber dar um bom abraço presencial.
por Ricardo Alves
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