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Espaço exterior do Radioclube Agramonte. © Rui Meireles
Na Boavista, há um lugar onde o Porto abranda e se deixa escutar. O Radioclube Agramonte – ou RCA – é bar, jardim e auditório. Serve cerveja artesanal, só passa música em vinil e mantém uma programação regular de concertos e DJ sets, com especial atenção a projetos emergentes e sonoridades contemporâneas. Numa antiga piscina transformada em anfiteatro ao ar livre, entre copos de cerveja, vinho natural e um espírito leve e descontraído, o RCA é palco e ponto de encontro – um espaço onde se vem para ouvir música e conversar.
© DR, cortesia da RCA
O RCA abriu portas em 2024, mas a sua semente começou a germinar anos antes, em Madrid, quando Kevin Bowman, natural da Califórnia, e Miguel Freitas, natural do Porto, se conheceram num mestrado. “Conheci o Miguel no primeiro dia de aulas e, desde aí, começámos a falar da ideia de termos um bar que gostássemos de frequentar”, recorda Kevin, um dos quatro fundadores do espaço. “Inicialmente, pensámos em criar uma fábrica de cerveja”, conta. “Mas isso é mais dispendioso, então decidimos começar com esta ideia de um bar de cerveja artesanal.” Juntaram-se a este plano Nuno Pereira e Rafa Castro Lopes.
Nene Khoshtaria (funcionária do bar), Kevin Bowman (sócio), Adriana Paiva de Magalhães (sub-gerente do bar) e Rafael Castro Lopes (sócio). Fotografia © Rui Meireles
Fotografia © Rui Meireles
A paixão pelo vinil veio, sobretudo, de Miguel, colecionador dedicado. “A exclusividade surgiu quase por acaso, organicamente; comprámos umas mesas para tocar vinil e os clientes acharam a ideia gira – e ficou.” A música, o ambiente informal e a vontade de criar um espaço “acolhedor, relaxado… tipo ‘um dia no parque’”, como descreve Kevin, são hoje a essência do RCA.
Fotografia © Rui Meireles
O programador e a visão musical
Se Kevin ajudou a materializar o RCA, é Juanes Enciso quem mantém o ritmo e a direção da sua identidade sonora. Programador musical do espaço, Juanes trouxe consigo um ouvido atento e espírito de comunidade. “Atualmente, tratamos da curadoria em equipa, ouvimos todas as propostas que recebemos e tentamos escolher o que para nós faz sentido”, explica-nos.
A programação não vive isolada – está intimamente ligada ao espírito do RCA e do Espaço Agra (no mesmo edifício), onde residem companhias de circo e dança contemporânea. “Tentamos trazer projetos novos e que precisam de palco”, diz Juanes, reforçando o papel do RCA como plataforma de apresentação de novos projetos.
“O ambiente escolhe a música muitas vezes”, reconhece Kevin. E essa simbiose entre o som e o momento traduz-se até na escolha dos discos. Um dos mais rodados ultimamente? Bolis Pupul. “É um artista mais ou menos novo, que toda a gente está a adorar. Quando alguém está sem inspiração, vai procurar esse vinil branco – é quase um código interno”, conta Juanes.
Mas há algo mais que distingue o RCA: o seu espaço exterior. Um jardim amplo e uma antiga piscina, hoje transformada em anfiteatro, funcionam como palco de experiências inesperadas. “Já fizemos aqui alguns concertos memoráveis”, diz Juanes. Um dos mais icónicos? “O concerto dos Baleia, Baleia, Baleia, que acabou com uma guerra de almofadas dentro da piscina. Era um bocado de tudo – crianças a correr, gente sentada nas grades, outros a dançar. Foi muito lindo.” É neste cenário que se desenrola a programação de julho do RCA, a última antes da pausa de verão.
© DR, cortesia da RCA
Concertos na piscina: mergulhar na música
→ 12 de julho: João Alves apresenta Ëmoen, o seu álbum de estreia editado pela Jazzego no final de 2024. Um trabalho onde experimentalismo e sensibilidade melódica se encontram, sob o selo de uma editora que, segundo Juanes, “faz um trabalho muito fixe”.
→ 19 de julho: xauxau dodô, projeto de Barcelos, prepara o lançamento do seu primeiro álbum. “São seis músicos muito bons. Acho que é um projeto altamente para apanhar agora que ainda é acessível financeiramente.”
→ 26 de julho: encerramento da temporada com um concerto duplo:
Just Fish, trio de bateria, sintetizadores e teclados com uma abordagem profundamente experimental. “Sou muito fã do trabalho deles”, diz Juanes. “O concerto que fizeram no nosso jardim há um ano foi um dos meus favoritos até agora.”
E André Júlio Turquesa (trio), músico com forte presença no Porto e colaborações no teatro. “O último álbum dele é mesmo muito lindo”, sublinha Juanes. “Achámos uma ótima ideia fechar a programação com ele.”
Uma casa com portas abertas
“Tudo está feito para que seja um espaço onde se queira voltar”, afirma Kevin. E muitos voltam. Há rostos que se repetem semana após semana — e até cães que “já fazem parte da família de alguma maneira”.
Durante o mês de agosto, o RCA entra em modo mais tranquilo. O bar permanece aberto, mas a programação musical faz uma pausa. “A maior parte das pessoas que trabalham no espaço trabalha fora no verão, em festivais, por isso, o ambiente fica mais calmo nessa altura.” É este equilíbrio entre energia e descanso que define o RCA: um espaço que pulsa com a cidade, mas também sabe respirar com ela. Como diz Juanes, “tu nunca sabes o que vai acontecer quando chegares aqui.” Mas uma coisa é certa: vais querer voltar.
Fotografia © Rui Meireles
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