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Código Postal 4000 e tal
A quadratura do círculo de uma coletividade autossuficiente
CCOP — Círculo Católico dos Operários do Porto
Codigo Postal: CCOP

Não estávamos ainda no século XX quando o Círculo Católico dos Operários do Porto (CCOP) foi fundado. Corria o ano de 1898. “Uma altura de grande agitação política, uns anarquistas chegaram a lançar fogo à sede”, recupera Alberto Martins, atual tesoureiro desta associação. A razão terá sido a proximidade à Igreja Católica, força motriz da criação de uma associação para defesa de diversas classes operárias: entre os milhares de associados na primeira década, lideravam em número os alfaiates e sapateiros. Os princípios fundadores resistiram ao tempo: hoje, o CCOP é uma Instituição Particular de Solidariedade Social, providenciando refeições aos seus utentes — alguns deles frequentadores habituais das longas tardes de sueca, junto ao bar.

Codigo Postal: CCOP

© Rui Meireles

Mas este não é o único vértice do Círculo — o CCOP reentrou no vernáculo da cidade através do seu Auditório, remodelado em 2018, e desde é então habitado por concertos de uma grande amplitude de géneros. João Maya, o dinamizador desta vertente do CCOP, procurava assumir a gestão de uma sala de espetáculos de tamanho médio. Ao não encontrar o modelo exato que procurava, foi-lhe recomendado o edifício de uma associação na zona de Belas Artes. 

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João Maya, © Rui Meireles

Mas este não é o único vértice do Círculo — o CCOP reentrou no vernáculo da cidade através do seu Auditório, remodelado em 2018, e desde é então habitado por concertos de uma grande amplitude de géneros. João Maya, o dinamizador desta vertente do CCOP, procurava assumir a gestão de uma sala de espetáculos de tamanho médio. Ao não encontrar o modelo exato que procurava, foi-lhe recomendado o edifício de uma associação na zona de Belas Artes. 

À data, o edifício estava em péssimas condições: a cobertura tinha cedido há anos, precisava de intervenção urgente para evitar o desabamento, e o soalho tinha buracos com vista para o piso inferior. Agarrar a reconstrução deste espaço era um trabalho mais difícil do que uma solução “chave na mão”, mas João Maya lançou-se. Porquê? “Ainda hoje não sei dizer. Só sei que senti uma vontade de missão”, arrisca. Hoje, fala com paixão sobre a associação, o trabalho feito até agora, e todas as pequenas mudanças que são necessárias para garantir que “não definhe”, mantendo os seus sócios mais envelhecidos, mas chamando a si públicos mais jovens, também.

Codigo Postal: CCOP

© Rui Meireles

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Vítor Israel, © Rui Meireles

Antes do Auditório, um grupo de artistas, o Coletivo Rua do Sol, já tinha iniciado o processo de rejuvenescimento: em 2013, após serem obrigados a procurar um espaço diferente do que até então ocupavam na rua que lhes deu nome, pensaram na associação por onde passavam todos os dias, a caminho da Faculdade de Belas Artes. Ainda hoje ocupam três pisos de uma das lojas do CCOP, com uma galeria que um dos fundadores, Vítor Israel, descreve como “um espaço multidisciplinar gerido por artistas, que tem programação quase ininterruptamente desde 2015”.

Vítor afirma que “para um artista recém-licenciado, um dos maiores dramas que existe nesta cidade é a falta de sítios para expor”, estando a maior parte das galerias dedicadas a uma vertente mais comercial. Ao edifício da sede pertencem, ainda, um pequeno restaurante e uma loja de ferragens, cuja cedência de espaço representa a maior fonte de receitas da associação.


Esta sustentabilidade de contas é onde o CCOP difere da constelação de coletividades da cidade, sendo proprietários de um imóvel com 500m2 cobertos e 500m2 ao ar livre. Já várias ofertas surgiram para compra da sede, mas, e por mais tentadores que os números fossem, a associação sempre as recusou. “E podia ser um hotel tão bonito!”, ironiza Vítor

Codigo Postal: CCOP

© Rui Meireles

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Alberto Martins © Rui Meireles

Essa recusa em abandonar a associação parte de uma visão que Alberto, João e Vítor partilham. Os três entendem que o contexto que levou à fundação deste tipo de coletividades desapareceu e, face à multiplicidade de ofertas de lazer na cidade, terão de se redefinir. Vítor fala de como “os associados se sentem aqui numa segunda casa” e como até isso pode ter um lado mau. “As pessoas ficam muito territoriais, uma coisa antiga que está no nosso sangue latino”. O caminho, estão todos de acordo, é o de construir algo comum, mas aberto, capaz de entender quem cá está e receber quem vem de fora.

por Ricardo Alves

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© Rui Meireles

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