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A curta de animação "Estória do Gato e da Lua" soma já 30 anos — ao longo dos quais foi selecionada para 82 festivais, e escolhida para integrar o Plano Nacional de Cinema. A data vai ser celebrada com a projeção de uma nova versão, em formato de filme-concerto, musicada ao vivo pelos Mão Morta Redux — e ainda com lançamento de um livro, editado pela Kalandraka. Antes de tudo isto acontecer no Batalha Centro de Cinema, no dia 28, falámos com o realizador Pedro Serrazina sobre quantas vidas este gato tem.

Pedro Serrazina © Nelson Garrido
Quando Pedro Serrazina se muda de Lisboa para o Porto, fá-lo para tirar o curso de Arquitetura: "ainda estudei durante quatro anos, mas não concluí Arquitetura. No entanto, foi algo que deu sensibilidade espacial à minha visão de cinema, e julgo que isso se nota no filme, nos movimentos de câmara e na preocupação com a construção dos espaços". Tanto mais que a "Estória do Gato e da Lua", a sua primeira curta, foi produzida no período em que residia na cidade, nas escadas dos Guindais.
Debaixo da voz de Joaquim de Almeida e da música composta por Tentúgal, os espaços em que o gato titular se lança são imediatamente reconhecíveis a olhos portuenses.
Contudo, a versão que será apresentada no Batalha Centro de Cinema não é a versão de 1995, de cinco minutos. Quando surge a oportunidade de lançar um livro sobre a curta, começa um longo processo de desdobramento e ampliação — Serrazina fala-nos de como pensar numa curta animada sob a forma de imagens sequenciais, numa lógica mais próxima à banda desenhada, a fez ganhar um novo corpo.
Além do lançamento do livro, a criação da versão filme-concerto representou todo um novo trabalho: "eu não queria cair na celebração nostálgica. Decidi fazer algo de novo, e convidei o Carlos Soares para trabalhar comigo numa nova montagem, e os Mão Morta para a musicarem".

Capa do livro editado pela Kalandraka © DR
Esta nova versão filme-concerto tem agora 20 minutos, ao invés dos cinco originais, o que representou uma "perturbação" no momento de montagem, uma vez que o filme original se apresenta quase sem cortes, tendo "um movimento contínuo". "Está sempre em metamorfose."
Mesmo a conceção da nova música foi algo não-linear: "não foi uma entrega de um filme fechado para os Mão Morta fazerem a banda sonora e nós depois corrigirmos. As ideias foram sendo trocadas, e houve uma evolução que eu acho muito rica — e era isso que me interessava também fazer".

Este "novo corpo" promete não só ser uma revisitação do original, mas também uma revisitação do espaço concreto — em certas detalhes, perdido — do centro histórico do Porto. "Não me posso arrogar a dizer que isto é um filme-manifesto, mas queremos também com ele fazer uma reflexão sobre o que mudou nestes 30 anos naquele local."
"Digamos que, quem tiver essa sensibilidade, irá conseguir encontrar isso no novo filme", remata.

A sessão do dia 28 — data em que se assinala o Dia Internacional da Animação — contará também com uma conversa com Margarida Noronha, editora do livro, moderada por Regina Machado da Casa da Animação.
Em jeito de conclusão, o realizador resume a experiência como "algo que foi muito rico, e que surpreendeu todos os envolvidos no processo de criação", mas acrescenta, a um nível mais pessoal, que será "comovente poder estar com pessoas com quem trabalhou há 30 anos, e refletirem um pouco sobre o que mudou".
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