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"Eu gostava de fumar. Era uma potente fonte de devaneio. Tive de parar de o fazer porque, acrescidas à feroz artrose, as dificuldades respiratórias eram uma barra demasiado pesada para este meu, velho corpo. Então entreguei-me aos ancestrais trabalhos de agulha, bordar e não só, que na adolescência abominava porque me pareciam traduzir, ponto após ponto, a subalternização das mulheres...
Aquilo que pelas narinas dissolvia o mundo em pensamento é-me agora um trabalho de mãos. Radicalmente amador como é minha convicção política. Fundamente ligado à oração como a rebelião poética. Note-se (quem sabe, repara logo) que eu não sei bordar.
Isto não é o meu corpo, é apenas eco de corpo meu em infindável tracejado, incapaz de se deixar passar a limpo. A Elvira Leite, mestra dos mestres que duvidam dos mestres – por e para quem esta mostra de farrapos é – percebe, julgo eu, perfeitamente o que eu quero dizer. Aureolada de seu cabelo bíblico, foi minha professora aos dez anos. Devo-lhe muito do meu gosto pelo desenho. E também o ensejo de que as artes sejam livremente praticadas por todos, para que a humanidade se liberte do trabalho escravo." — Regina Guimarães
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"Eu gostava de fumar. Era uma potente fonte de devaneio. Tive de parar de o fazer porque, acrescidas à feroz artrose, as dificuldades respiratórias eram uma barra demasiado pesada para este meu, velho corpo. Então entreguei-me aos ancestrais trabalhos de agulha, bordar e não só, que na adolescência abominava porque me pareciam traduzir, ponto após ponto, a subalternização das mulheres...
Aquilo que pelas narinas dissolvia o mundo em pensamento é-me agora um trabalho de mãos. Radicalmente amador como é minha convicção política. Fundamente ligado à oração como a rebelião poética. Note-se (quem sabe, repara logo) que eu não sei bordar.
Isto não é o meu corpo, é apenas eco de corpo meu em infindável tracejado, incapaz de se deixar passar a limpo. A Elvira Leite, mestra dos mestres que duvidam dos mestres – por e para quem esta mostra de farrapos é – percebe, julgo eu, perfeitamente o que eu quero dizer. Aureolada de seu cabelo bíblico, foi minha professora aos dez anos. Devo-lhe muito do meu gosto pelo desenho. E também o ensejo de que as artes sejam livremente praticadas por todos, para que a humanidade se liberte do trabalho escravo." — Regina Guimarães
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