Um sofá vermelho, uma mesa, uma marioneta e vários objetos ajudam a encenadora Agnès Limbos a contar a sua história. Em 1959, a família vive no Congo, então uma colónia belga, cuja independência se dá no ano seguinte. Os pais decidem ficar e enviam os filhos de regresso à Bélgica, ao cuidado de um tio padre. Agnès, na altura com 8 anos, sente este episódio como um abandono. Em palco, a mulher de 70 anos em que se transformou entra em diálogo com essa menina, à medida que lê as cartas enviadas pelo pai aos filhos, aguardadas com um misto de impaciência e de desejo de justificação. Dessas linhas paternas, lidas no presente, desprende-se um olhar diferente sobre os acontecimentos do passado, quer pessoais quer coletivos, como o paternalismo e o racismo convocados pelo espírito missionário. Em Les Lettres de Mon Père, a pequena Agnès-marioneta e a grande Agnès-marionetista olham-se no espelho do tempo que passa, recontando não só a sua história como a história de toda uma época.