Esta palestra introduz os conceitos-base da criação de The Burg of Babel, uma instalação fílmica do artista Mohammad Salemy que explora os enredos entre mito, arte, media, tempo e memória, através de uma narrativa especulativa situada no porto de Beirute. A partir da história fictícia do contrabando do esboço original perdido da pintura da Torre de Babel de Pieter Bruegel, o filme investiga a relação entre a inteligência coletiva e os limites da sua apreensão por sistemas históricos, tecnológicos e políticos.

Estruturada como uma instalação analógica de 25 canais dispostos numa grelha 5×5, a obra espacializa o tempo ao condensar os 25 minutos do filme num só minuto de exibição simultânea, com cada canal desfasado por intervalos de um minuto. Esta estratégia composicional funciona como metáfora para a forma como a inteligência artificial “lê” o tempo humano e, por extensão, contempla formas de arte humanas como o cinema. Por contraste, a experiência do espectador propõe uma vivência temporal alternativa: ao mover o olhar pela grelha, o público rebobina, acelera, fragmenta ou estende o tempo, guiado pela atenção e pelo movimento perceptivo.

Através deste formato inovador, Salemy traça ligações entre a aura especulativa das pinturas de Bruegel (como evidenciado na sua retrospetiva no Kunsthistorisches Museum de Viena), os eventos trágicos da explosão no porto de Beirute em 2020 e o mito do fracasso da Torre de Babel como símbolo da comunicação humana fragmentada. O resultado é um mosaico de opacidade — um arquivo oblíquo que resiste à resolução e propõe, em seu lugar, uma nova gramática cinematográfica para pensar as dinâmicas elusivas do pensamento coletivo.