Para muitos, Natal é sinónimo de família. Tempo de união, harmonia e amor. Em Carne, é também sinónimo de amargura, ressentimento e frustração. Numa casa como tantas outras, uma família junta-se à mesa para a consoada. Faltam uma irmã, morta, e a mãe, doente, presa a uma cama no quarto ao lado. As personagens partilham o jantar, mas também “dívidas, traumas e hérnias discais”. As conversas e silêncios ao longo da noite expõem, em toda a sua crueza, a impossibilidade de comunicação e os conflitos insanáveis entre os diferentes elementos da família. Escrita no âmbito da École des Maîtres (edição de 2021), Carne é um exercício sobre as insuficiências da linguagem. “Mas se, por um lado, a linguagem não chega, por outro, também sobra: mesmo se falha constantemente, também cria constantemente.” E é com palavras e linguagem que Raquel S. cria e dirige este espetáculo.