“O teatro é como um sonho”, escreveu o suíço de língua alemã Robert Walser (1878-1956). “Entra-se no teatro e, poucas horas depois, sai-se como que de um sono peculiar.” Autor de uma das obras mais singulares do século XX, Walser criou romances, contos, histórias breves, ensaios, poemas, microgramas e dramalhetes, esses originais e provocadores textos para teatro que põem de pernas para o ar as noções tradicionais dos contos de fadas. Como observou Walter Benjamin, estes pequenos dramas em verso parecem começar “onde os contos dos Irmãos Grimm acabam”. A Branca de Neve perdoa à rainha malvada por esta a ter tentado matar, a Gata Borralheira duvida do seu príncipe e gosta de ser odiada pelas suas meias-irmãs, a Bela Adormecida deplora ter sido acordada por uma absurda e despretensiosa personagem walseriana. Sete anos depois, Nuno Carinhas regressa ao Teatro Nacional São João para encenar uma produção da casa e confrontar estas personagens criadas por um escritor que Benjamin caracterizou como “um mandrião, um vadio e um génio”.