É verão, há festa na vila. Balões acesos, bandeiras nos mastros, fogueiras, archotes no cais. Há uma guerra ao longe, soldados no quartel “a rodar a quatro e quatro pela direita”, dramas de namorados e um indigente espetáculo de circo. Tudo ganha som, cor e movimento, tudo se põe a girar, como num carrossel de feira, nesta vibrante criação de Ricardo Pais. Erguido sobretudo a partir de Saltimbancos – texto singular de Almada Negreiros, obsessivamente físico e sexual –, al mada nada tem sido muitas vezes descrito como o lado b, solar e impetuoso, de Turismo Infinito. Se o espetáculo criado sobre textos de Fernando Pessoa figurava uma mente plural, al mada nada celebra o corpo e a sensualidade, coisas que Almada, esse outro “poeta d’Orpheu e tudo”, viveu com inteira paixão. Estreado em 2014, o grande caleidoscópio português regressa com estrondo ao palco do Teatro São João. “Vivam os raios! Vivam os trovões! Viva o vento! Viva a chuva!” Viva al mada nada!