Quando perguntaram a João César Monteiro, em 2000, porque escolheu o dramalhete Branca de Neve , de Robert Walser, como argumento para o seu filme homónimo, o cineasta evocou uma “relação admirativa” com o escritor. A expressão é perfeita para descrever o trabalho de Avelino Sá em torno dos textos de Walser: o pintor mantém uma já longa e profícua “relação admirativa” com o autor suíço, vertida em várias séries de obras e exposições. Em Microgramas , que o Teatro Nacional São João expõe nos nichos das paredes do Salão Nobre, o artista parte dos misteriosos textos que Walser escreveu ao longo de vários anos a lápis, e numa letra minúscula, em cartões de visita, envelopes, papéis de embrulho, folhas de calendário ou simples bilhetes. Neste conjunto de quadros, criados segundo a técnica de encáustica sobre madeira, texto e pintura “dão as mãos”. “Porque a escrita”, continua Walser, “é uma distração divertida para a mão de um pintor”.