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Modos de rever – História(s) da arte no cinema

La rencontre de deux disciplines ne se fait pas lorsqu’une se met à réfléchir sur l’autre, mais lorsque
l’une s’aperçoit qu’elle doit résoudre pour son compte et avec ses moyens propres un problème
semblable à celui qui se pose aussi dans une autre.
Gilles Deleuze, “Le cerveau, c’est l’écran” (Cahiers du Cinema, 1986)


Desde sempre que o cinema se constituiu como uma variante do museu imaginário, ou como um museu sem paredes usando a definição de André Malraux.
Do mesmo modo que o visitante de um museu passeia pela exposição contemplando as obras de arte, também através deste ciclo se pretende propôr que o espectador possa fazer um percurso por filmes que já são em si mesmos um passeio pela(s) história(s) da arte e por ela contaminados. Tal como temos obras que fazem parte do nosso museu imaginário, também temos filmes que fazem parte do que seria a nossa cinemateca imaginária.
No seu seminal livro Ways of seeing, John Berger refere que olhar é sempre um acto de escolha (...); não olhamos apenas para uma coisa; estamos sempre a olhar para a relação entre as coisas e nós próprios.
Esta é uma questão central que atravessa os filmes sobre arte ou artistas: será possível, através de um filme, redefinir a relação do espectador com o acto de ver uma obra de arte?
Na reflexão que se propõe através deste ciclo, o filme é entendido como uma máquina de agenciar outras artes. Significando isto que os filmes, ao estarem ligados a coisas, a matérias, a realidades várias, podem, através dessa ligação física com o real, possibilitar novas descobertas quer conceptuais, quer sensíveis. É conhecida a citação de Luís Buñuel “espero de um filme que ele descubra qualquer coisa por mim”.
Em Portugal, foram realizados durante um período de pouco mais de meio século, mais de 150 filmes sobre arte e/ou artistas, tendo-se assistido a um crescimento exponencial destes filmes a partir dos anos 90 como consequência da democratização permitida pelo digital, também no campo da recepção. Ao longo deste ciclo serão apresentados filmes realizados sobre artistas portugueses, em diferentes períodos, mas também filmes realizados em diversos momentos da história do cinema e da arte por cineastas de diferentes origens e gerações que, ligados embora pelo desejo de cinema, enunciaram diversos modos de pensar e de olhar a arte. Assim, os filmes escolhidos respondem de diferentes modos aos problemas que se levantam com a passagem da obra de arte ao cinema.
Nas várias sessões procuraremos responder, entre outras, às seguintes questões: Como se faz o retrato de um artista e da sua obra através do cinema? Como se traduz, como se transportam os códigos de uma linguagem para a outra? Qual é a fronteira entre ficção e documentário na abordagem à obra dos artistas? De que modo a obra de um dado artista influencia os modelos de construção da imagem? Pode o cinema como dispositivo de visibilidade, como forma que pensa, ser uma hipótese de museu sem paredes?
Modos De Rever: Histórias(s) da arte no cinema propõe, assim, ao longo de um ano e de uma série de sessões de cinema e de diálogos com realizadores, artistas, críticos de arte e de cinema, a construção de um pensamento sobre as imagens que possa reflectir, a partir de diferentes abordagens cinematográficas, sobre os diálogos experimentais e ekfrásticos entre o cinema e a arte.
O mote para este ciclo partiu dos três filmes que Manoel de Oliveira realizou em torno de artistas e obras de arte ao longo de meio século: “O Pintor e a Cidade” (1956), “As Pinturas do meu Irmão Júlio” (1965) e “Os Painéis de São Vicente de Fora, Visão Poética” (2010). Estes filmes, diversos na sua abordagem ao fenómeno artístico, mostram como Oliveira admirava os artistas e evidenciam a relação do seu cinema com a pintura ao nível quer da construção do plano quer da construção do objecto. “O Pintor e a Cidade” de 1956 é um exemplo maior e um marco nos filmes sobre arte realizados em Portugal, tendo sido um dos primeiros a abordar o universo das artes e a inaugurar um novo tipo de abordagem neste campo por revestir características que o distinguem face à demais filmografia congénere, estabelecendo um determinado número de pressupostos que iremos encontrar futuramente nos grandes exemplos do género que se lhe seguiram.
É minha convicção que um filme sobre um artista pode despertar no espectador a curiosidade por uma obra e pode mesmo avançar pistas para o seu entendimento, fornecendo-lhe ferramentas para a sua compreensão, mas não pode jamais ter a pretensão de explicar uma obra de arte, porque é sempre um caminho em aberto o da sua descoberta.

Isabel Gomes

20
Abr
14
Dez

La rencontre de deux disciplines ne se fait pas lorsqu’une se met à réfléchir sur l’autre, mais lorsque
l’une s’aperçoit qu’elle doit résoudre pour son compte et avec ses moyens propres un problème
semblable à celui qui se pose aussi dans une autre.
Gilles Deleuze, “Le cerveau, c’est l’écran” (Cahiers du Cinema, 1986)


Desde sempre que o cinema se constituiu como uma variante do museu imaginário, ou como um museu sem paredes usando a definição de André Malraux.
Do mesmo modo que o visitante de um museu passeia pela exposição contemplando as obras de arte, também através deste ciclo se pretende propôr que o espectador possa fazer um percurso por filmes que já são em si mesmos um passeio pela(s) história(s) da arte e por ela contaminados. Tal como temos obras que fazem parte do nosso museu imaginário, também temos filmes que fazem parte do que seria a nossa cinemateca imaginária.
No seu seminal livro Ways of seeing, John Berger refere que olhar é sempre um acto de escolha (...); não olhamos apenas para uma coisa; estamos sempre a olhar para a relação entre as coisas e nós próprios.
Esta é uma questão central que atravessa os filmes sobre arte ou artistas: será possível, através de um filme, redefinir a relação do espectador com o acto de ver uma obra de arte?
Na reflexão que se propõe através deste ciclo, o filme é entendido como uma máquina de agenciar outras artes. Significando isto que os filmes, ao estarem ligados a coisas, a matérias, a realidades várias, podem, através dessa ligação física com o real, possibilitar novas descobertas quer conceptuais, quer sensíveis. É conhecida a citação de Luís Buñuel “espero de um filme que ele descubra qualquer coisa por mim”.
Em Portugal, foram realizados durante um período de pouco mais de meio século, mais de 150 filmes sobre arte e/ou artistas, tendo-se assistido a um crescimento exponencial destes filmes a partir dos anos 90 como consequência da democratização permitida pelo digital, também no campo da recepção. Ao longo deste ciclo serão apresentados filmes realizados sobre artistas portugueses, em diferentes períodos, mas também filmes realizados em diversos momentos da história do cinema e da arte por cineastas de diferentes origens e gerações que, ligados embora pelo desejo de cinema, enunciaram diversos modos de pensar e de olhar a arte. Assim, os filmes escolhidos respondem de diferentes modos aos problemas que se levantam com a passagem da obra de arte ao cinema.
Nas várias sessões procuraremos responder, entre outras, às seguintes questões: Como se faz o retrato de um artista e da sua obra através do cinema? Como se traduz, como se transportam os códigos de uma linguagem para a outra? Qual é a fronteira entre ficção e documentário na abordagem à obra dos artistas? De que modo a obra de um dado artista influencia os modelos de construção da imagem? Pode o cinema como dispositivo de visibilidade, como forma que pensa, ser uma hipótese de museu sem paredes?
Modos De Rever: Histórias(s) da arte no cinema propõe, assim, ao longo de um ano e de uma série de sessões de cinema e de diálogos com realizadores, artistas, críticos de arte e de cinema, a construção de um pensamento sobre as imagens que possa reflectir, a partir de diferentes abordagens cinematográficas, sobre os diálogos experimentais e ekfrásticos entre o cinema e a arte.
O mote para este ciclo partiu dos três filmes que Manoel de Oliveira realizou em torno de artistas e obras de arte ao longo de meio século: “O Pintor e a Cidade” (1956), “As Pinturas do meu Irmão Júlio” (1965) e “Os Painéis de São Vicente de Fora, Visão Poética” (2010). Estes filmes, diversos na sua abordagem ao fenómeno artístico, mostram como Oliveira admirava os artistas e evidenciam a relação do seu cinema com a pintura ao nível quer da construção do plano quer da construção do objecto. “O Pintor e a Cidade” de 1956 é um exemplo maior e um marco nos filmes sobre arte realizados em Portugal, tendo sido um dos primeiros a abordar o universo das artes e a inaugurar um novo tipo de abordagem neste campo por revestir características que o distinguem face à demais filmografia congénere, estabelecendo um determinado número de pressupostos que iremos encontrar futuramente nos grandes exemplos do género que se lhe seguiram.
É minha convicção que um filme sobre um artista pode despertar no espectador a curiosidade por uma obra e pode mesmo avançar pistas para o seu entendimento, fornecendo-lhe ferramentas para a sua compreensão, mas não pode jamais ter a pretensão de explicar uma obra de arte, porque é sempre um caminho em aberto o da sua descoberta.

Isabel Gomes

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